sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
Promessa pra São Luís Durão
Meu sapato já furou, com Clara Nunes, é uma boa pedida para virar o ano.
Aninha e suas pedras
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
... (Cora Coralina)
Lambida multicultural

O ano de 2008 foi declarado "Ano Internacional das Línguas" pela Assembléia Geral das Nações Unidas. A Unesco, encarregada de coordenar as atividades, tenciona assumir de forma resoluta o papel de principal responsável. O 21 de fevereiro de 2008 é o dia do nono Ano Internacional da Língua Materna.
Ver matéria completa
No ponto cego
"Pensar: inventar novas distinções, novos indicadores a partir dos quais se reconstitui o real, estabelecer outros axiomas, modificar as suas percepções, ver de repente no ponto cego, escutar uma mensagem onde ninguém ouviria senão ruído, fazer surgir novos sentidos (...) o pensamento não é senão um outro nome do acordar (...) o poder de um pensamento é proporcional a sua neutralidade, quer dizer, a sua capacidade de se subtrair às dualidades e separações instituídas que encontra no seu caminho".Fonte: Lévy, Pierre (1987). A Máquina Universo. Epistemologia e sociedade.
Que seja novo enquanto dure
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
boa frase...
sábado, 22 de dezembro de 2007
Caravana
De Geraldo Azevedo e Alceu Valença, Caravana é harmonia que toca palavra no fundo do verbo, no apelo singelo da coesão perfeita. Bate em mim e me paralisa.
Corra não pare, não pense demais
Repare essas velas no cais
Que a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol
Degelou teus olhos tão sós
Num mar de água clara
Goethe "investe" em África
Três novas unidades da instituição deverão ser abertas no próximo ano na África, incluindo uma em Luanda, capital de Angola. Ministério das Relações Exteriores eleva repasse de recursos em mais de 15%.
Fonte: Deutsche Wellequinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Etimologia das superstições
O anúncio de um novo ano nos remete a velhos símbolos, como os das superstições. Sempre que pensamos na mistura de vocabulário em países de língua portuguesa fala-se geralmente das expressões das línguas nativas que conseguiram sobreviver e permanecem como legado. Em épocas de reforçar crenças, achei interessante trecho sobre a etimologia da palavra "figa", a qual acredita-se que tenha seguido o caminho inverso, sendo um vocábulo português que ficou nos ritos africanos. "figa - Segundo Nei Lopes, em Novo Dicionário Banto do Brasil, poderia ser palavra derivada do suaíli fingo, "amuleto"; contudo, ele não descarta a hipótese contrária, isto é, de se tratar de vocábulo português que ingressou no idioma africano - o que parece ser mais provável. Embora este seja um dos amuletos preferidos pelos seguidores das religiões afro-brasileiras, já era conhecido na pré-história européia. O vocábulo figa vem do Latim fica e aparece também no francês e no espanhol (figue e higa, respectivamente); trata-se, portanto, de uma contribuição do nosso idioma às línguas daqueles povos africanos com que Portugal manteve contato, antes mesmo de descobrir o Brasil. O que muitos não sabem é que a figa sempre teve um evidente conteúdo fálico, em que o polegar representa o membro masculino entre os lábios da vulva feminina; o poder contra o mau-olhado atribuído a este amuleto deriva exatamente da crença primitiva de que o sexo e a fertilidade são forças do bem".
Fonte: http://www.sualingua.com.br
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
A "africanitude" na "prosopoética" de Mia Couto em Pensatempos
A amplitude da africanidade está na essência do homem plural, em sua complexa diversidade de existências. No entanto, a produção literária feita por autores africanos cresce nas amarras de uma visão antropológica do estigma de ser o retrato fiel de uma sociedade, de um sentimento, de um resgate histórico.Mia Couto em Pensatempos conta que em uma conferência foi perguntado sobre o que é ser africano. E devolveu a pergunta: “então o que é ser europeu?”. E eis que o curioso não soube responder.
No artigo O que é africanidade, publicado na edição especial número seis da revista EntreLivros, Kabengele Munanga exemplifica a interpretação simplória e reducionista sobre a África.
"Estamos todos acostumados a ler, até nos textos eruditos, os conceitos relacionados à África no singular. Cultura africana, civilização africana, africanidade no seu emprego singular remete, sem dúvida, a uma certa unidade, a uma África única. Mas, diante da extraordinária diversidade e complexidade cultural africana, como é possível conceber uma certa unidade?"
A vida do escritor Mia Couto se confunde com ser africano e também de toda a parte (assim ele se chama criatura de fronteira). Em Pensatempos, relata influências, as alterações de realidade em Moçambique, a reinvenção de pedaços de língua como abolição de códigos; a comparação entre o Sertão e a Savana, e outros temas. Tudo ganha uma perspectiva macro e microscópica. E assim também o autor convida o leitor a esse exercício de elasticidade. Toda essa aglutinação (de idéias, fatos e sensações) passa por duas referências essenciais, justamente o pensamento e o tempo. A maneira de pensar pode ser reflexo, causa ou herança do tempo.
Pensando o tempo a ampulheta da vida se move erguendo e derrubando nossas estruturas reais e imaginadas.
Passa o tempo, pensa o tempo...
domingo, 16 de dezembro de 2007
Dados da África Lusófona
sábado, 15 de dezembro de 2007
Vida e morte
Nos primeiros anos da colonização, 6 000 000 de índios falavam, ao todo, mais de mil línguas indígenas. A língua dos Tupinambá (tupi antigo), falada numa extensa área da costa atlântica, passou a ser usada pelos portugueses e seus descendentes, já no século XVI. Foi também adotada pelos Jesuítas para catequização dos índios de diversas culturas.Fonte: Pereira, Dulce (2006). O essencial sobre a Língua Portuguesa - Crioulos de base portuguesa. Caminho. Lisboa.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Viva o calulu
sábado, 8 de dezembro de 2007
Novo portal para 2008
Fonte: Jornal O Público (matéria na íntegra)
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Achados e perdidos
"A Comunidade luso-brasileira é um mito inventado pelos portugueses. Não é minimamente vivida do outro lado do Atlântico. (...) Que relação pode existir entre o imaginário de um povo de 10 milhões de habitantes, como Portugal, prisioneiro de mitos obsoletos - o Brasil é um deles -, e o de uma país de 150 milhões de almas, entre as quais se encontram pessoas vindas da Itália, Espanha, Alemanha, Europa central, Oriente Médio, Rússia e Japão? (...) Se Portugal absorve, dia e noite, há dezenas de ano, as novelas da Globo, os nossos filmes não conhecem qualquer sucesso no Brasil. Não é apenas uma questão fonética, é porque o código cultural do Brasil contemporâneo está a se afastar, em uma velocidade extraordinária, do velho país europeu que Portugal é. (...) Nada disso é motivo de espanto. Há muito tempo que estamos 'perdidos' para o Brasil, pois há muito mais tempo que nos 'perdemos' no Brasil".Fonte: Eduardo Lourenço. A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia. Editora Gradativa, 2003.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
A China em Portugal
Se na China cresce o interesse pela língua portuguesa, em Portugal o chinês é praticamente um modismo. As salas de aula estão lotadas, as universidades preparam cursos especiais. Ficou na cabeça uma frase de uma professora que me disse que tentar conter a China é como barrar um fenômeno da natureza. Sobre o aprendizado do idioma, parece que a dificuldade também é recíproca: a professora de mandarim Zhang Shuang diz em matéria publicada no jornal do Metro, sobre a explosão do estudo do idioma em terras lusas, que "para um chinês é muito difícil compreender a gramática portuguesa". A leitura, ela acha mais fácil. Em meio a esta sede, quando me dei conta já estava imersa em um universo linguístico com uma lógica totalmente diferente. É fantástico estudar chinês, muito difícil, mas a simbologia dos caracteres é linda e com certeza abre a mente para uma nova observação da vida. Acho que trabalha uma parte do meu cérebro que eu nunca tinha usado (não que eu use muita coisa dele). Essa é a sensação.sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Ideologia funerária de África
"O africano vive em familiaridade com a morte, e a morte individual é apenas um momento do círculo vital que não prejudica a continuidade da vida. Mas isso não impede que a morte provoque uma desordem tanto na pessoa do defunto, como entre seus próximos, na sua linhagem e comunidade inteira. Assim, os ritos funerários servem para contornar simbolicamente a desordem e restaurar o equilíbrio emocional do grupo abalado ...Quando a morte acontece é preciso compor a negatividade que ela representa, proteger-se contra ela, elucidar suas causas para proceder à restauração da ordem. Sobretudo, é importante que o grupo afirme sua coesão e vitalidade, coloque em visibilidade suas energias escondidas com vistas a uma nova partida: os grandes funerais africanos são festas ruidosas que reúnem pessoas de todas as idades num ambiente de excitação sustentada pelas danças, cantos, arengas, ritmos dos tambores, comidas e libações ...
Pouco a pouco a atenção se desvia da morte real, inaceitável em sua dimensão individual e afetiva, para se içar ao plano simbólico no qual a morte é a garantia de uma excelente vida ...
Assim funciona a ideologia funerária de África tradicional: o morto impuro e perigoso é transformado em ancestral protetor e reverenciado, a morte é transformada em vida".
Fonte: Munanga, Kabengele (2005). O que é africanidade. In: Revista EntreLivros, Vozes da África - a riqueza artística e cultural do continente. Edição especial número 6.
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Promessa é dívida
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu na última quarta-feira (14) ao presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo Nino Vieira, que enviará ao Congresso pedido para perdão da dívida de US$ 34 milhões que o país africano tem com o Brasil.Lula informou ainda que a Petrobras e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participarão de missões na Guiné-Bissau. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, comprometeu-se a visitar o país em fevereiro de 2008.
O presidente ressaltou que as duas nações têm acordos bilaterais que movimentam US$ 2 milhões. Durante a visita de Nino Vieira, Brasil e Guiné-Bissau firmaram quatro acordos de cooperação, entre os quais, parcerias no combate à malária e no desenvolvimento de produtos a partir do caju.
Fonte: Portugal Digital
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Árvore inteira
Ledo Ivo no artigo A situação do escritor brasileiro diante da língua portuguesa.
Jornalismo e literatura, atas do II Encontro Afro-Luso-Brasileiro.
!Acho muito forte dizer que o português não foi uma língua imposta (ainda que no sentido de superação), mas com certeza no Brasil não é mesmo uma língua emprestada.
Do nonsense ao repugnante
, os falantes de português, a não jogar o jogo da lusofonia, seja por subordinação causada pela miséria (no caso de Moçambique, Angola, São Tomé, Cabo Verde e Guiné), seja por desprezo (no caso do Brasil). Entre outras causas, é justamente por esse grande desprezo da opinião pública brasileira, que o mecanismo da CPLP pode curvar-se ao lusofonismo tacanho do governo português. Para imigrantes brasileiros e africanos das ex-colônias, entretanto, o discurso da lusofonia é uma armadilha terrível, pois o espaço lusófono, como mito que é, nunca se realizará na prática. A busca por direitos `especiais` baseados na lusofonia por parte de associações imigrantes oriundas do desastre colonial português, além de infecunda, apenas reforça essa ideologia-estrume."Fonte: Igor José de Renó Machado (Unicamp) (artigo sobre o livro "A Lusofonia e os lusófonos"). MARGARIDO, Alfredo. 2000. A Lusofonia e os Lusófonos: Novos Mitos Portugueses. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas. 89 pp.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Português: língua partida
O governo luso prepara alterações no ensino de português no exterior para adaptar a língua portuguesa às novas realidades e afirmar-se como uma das mais faladas no mundo, disse nesta sexta-feira o secretário de Estado da Educação.XXXX
Evento
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Garantias ao idioma português no exterior
"Exijo que o Ministério da Educação cumpra o dever fundamental que é proporcionar o ensino da língua portuguesa aos portugueses no estrangeiro", disse o deputado à agência Lusa.
De acordo com Carlos Gonçalves, que termina hoje uma visita de três dias a Stuttgart (Alemanha) a Estrasburgo (França), há nove escolas naquela região alemã onde ainda não começaram as aulas de português.
"Cinco dessas escolas estão sem português por razões administrativas - pessoas que se reformaram ou que estão doentes - enquanto nas outras quatro, a coordenadora de ensino propôs a abertura de mais cursos, mas o Ministério da Educação não aceitou", indicou o deputado, que manteve contato com várias associações de pais e com professores.
“É inaceitável que, em 2007, um governo e um Ministério da Educação deixem centenas de crianças sem aulas por razões administrativas", destacou, acrescentando que neste caso particular devem estar sem aulas cerca de 300 alunos portugueses.
Carlos Gonçalves disse ainda estar apreensivo com a transferência da tutela do ensino de português no exterior do Ministério da Educação para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), por não estar previsto qualquer orçamento no MNE para esta área.
"Em 2008/09, o ensino vai passar para a tutela do MNE, que tem orçamentados zero euros para o ensino do português no exterior. Fico preocupado", afirmou o deputado.
A visita de Carlos Gonçalves à Alemanha ocorreu na véspera da visita que o secretário de Estado das Comunidades portuguesas, António Braga, tem também agendada para aquele país.
O titular da pasta da Emigração inicia terça-feira uma visita de três dias à Alemanha para inaugurar as novas instalações do consulado de Portugal em Hamburgo.
Fonte: Agência Lusa
Canto das Três Raças
Composição: Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou
E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor.
Sistema de ensino em Timor Leste
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Abc do Sertão
Tem qui aprendê
Um outro ABC
O jota é ji
E o éle é lê
O ésse é si
Mas o érre
Tem nome de rê
Até o ypsilon
Lá é pissilone
O ême é mê
O éfe é fê
O gê chama-se guê
Na escola é engraçado
Ouvir-se tanto ê
A BÊ CÊ DÊ FÊ GUÊ LÊ MÊ NÊ PÊ QUÊ RÊ TÊ VÊ e ZÊ
composição: Luiz Gonzaga / Zé Dantas
Pensares de Inocência
"A lusofonia devia ser uma noção cheia de pulsão contra a hegemonia da língua inglesa, mas está muito voltada para dentro".
"Há muita coisa boa da literatura moçambicana que não chega a Angola e vice-versa. Em Portugal, ninguém conhece os escritores guineenses e para um são-tomense ir a Angola é um inferno".
"Se o Brasil não entrar na guerra da lusofonia, a guerra está perdida".
Inocência Mata (professora e ensaísta são-tomense)
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
O tempo e a saudade
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Mercado de almas
É necessário preencher um requerimento
E anexar um curriculum vitae.
Qualquer que seja a duração da vida
O C. V. deve ser sucinto.
Recomenda-se a concisão e uma boa seleção dos dados.
Transformar o que era paisagem em endereço.
E as vagas lembranças em datas fixas.
De todos os amores, basta o conjugal,
De todos os filhos, só os que nasceram.
Quem te conhece, não quem conheces.
Viagens, só ao exterior.
Filiações sem as razões.
Distinções sem menção ao mérito.
Escreva como se nem te conhecesses.
Como se te mantivesses sempre à distância de ti.
Silêncio total sobre cães, gatos, passarinhos,
Lembranças, amigos e sonhos.
Prêmios, mais que o valor.
Títulos, mais que a relevância.
Número dos sapatos, e não onde eles vão.
Anexar uma foto com orelhas bem visíveis.
É a forma delas que conta, e não o que elas ouvem.
E o que é que elas ouvem?
Barulho de máquinas de picar papel.
(Wislawa Szymborska, poeta polonesa, nasceu em 1923 e ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1996).
Retirado do blog: http://diariogauche.blogspot.com/
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Café com Osama
sábado, 10 de novembro de 2007
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Quatro momentos da Literatura Africana
1. Momento inicial: alienação e predomínio do modelo europeu Ex.: O escravo (José Evaristo de Almeida, 1856, considerado o primeiro romance de Cabo Verde).2. Maior consciência regionalista, com descrições do meio social, geografia, cultura. Ex.: textos da Revista Claridade.
Na roda da vida
O programa Roda Viva traz um site com todas as entrevistas em vídeo e transcritas, no endereço http://rodaviva.fapesp.br. Ainda em desenvolvimento, a página é um precioso acervo para recordar momentos importantes de nossa história. No vídeo acima, Heródoto Barbeiro relembra dois encontros tensos com Quércia (94) e um dos ícones do folclore da política nacional: Brizola (87).
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Mia Rosa, Guimarães Couto
"O meu país tem países diversos dentro, profundamente dividido entre universos culturais e sociais variados. Sou moçambicano, filho de portugueses, vivi o sistema colonial, combati pela independência, vivi mudanças radicais do socialismo ao capitalismo, da revolução à guerra civil. Nasci num tempo de charneira, entre um mundo que nasceu e outro que morria. Entre uma pátria que nunca houve e outra que ainda está nascendo. Essa condição de um ser de fronteira marcou-me para sempre. As duas partes de mim exigiam um médium, um tradutor. A poesia veio em meio socorro para criar essa ponte entre dois mundos distantes.E foi poesia que me deu o prosador João Guimarães Rosa. Quando o li pela primeira vez experimentei uma sensação que já tinha sentido quando escutava os contadores de história da infância. Perante o texto eu não simplesmente lia: eu ouvia vozes da infância. Os livros de Rosa me atiravam para fora da escrita como se, de repente, eu me tivesse convertido num analfabeto seletivo. Para entrar naqueles textos eu devia fazer uso de um outro ato que não é ler mas que pede um verbo que ainda não tem nome. Mais do que a invenção das palavras, o que me tocou foi a emergência de uma poesia que me fazia sair do mundo, que me fazia inexistir. Aquela era uma linguagem em estado de transe".
Fonte: Mia Couto no livro Pensatempos.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Desafio
Doutor: Meus senhores, vou lhes apresentar
A figura do homem popular,
Esse tipo idiota e muquirana
É um bicho que imita a raça humana.
Pois quando o pobre tem no seu repasto
O direito à escola e proteína
O seu cérebro cresce qual um astro
E começa a nascer pra todo lado
Jesus Cristo e muito Fidel Castro
Africará mingüê e favelará
mérica de verme que deusará
Iocuné Tatuapé Irará
Do direito, da lei, ecologia.
É na merda que eles vão parar
Ou na peste, maleita, hidropisia.
Serve o grande e o pequeno também.
Além disso quem chega-se à virtude
E da lei se aproxima e se convém
Tá mostrando ao doutor solicitude
Por querer o que dele advém.
Africará minguê ... ... etc.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Cena pitoresca
_Você é brasileira?
Eu digo:
_Sim
E ele:
_Eu não gosto de brasileiro. Só conheci um que prestasse. Esse é como se fosse um irmão para mim.
Eu respondo:
_Bom, o senhor está no seu direito. Mas isso não tem nada a ver com nacionalidade. Há gente boa e ruim em toda a parte.
Levei em conta a idade do senhor e tentei colocar em prática mais uma vez alguns preceitos budistas (na minha meta de alcançar a iluminação em Portugal). Ele voltou pro lugar dele e antes de eu ir embora me pediu para não ficar chateada. Vai entender! Ainda bem que ele não estava de bengala.
Nas partidas do mundo
Eduardo Lourenço disse sobre a lusofonia "não sejamos hipócritas, mas sobretudo voluntariamente cegos: o sonho de uma Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, bem ou mal sonhado, é por natureza - que é sobretudo histórica e mitológica - um sonho de raiz, de estrutura de intenção e amplitude lusíada".Para ele, há dois aspectos fundamentais sobre lusofonia: (1) a língua (e para isso reconhecer a diversidade é preciso) e (2) a cultura (sob perspectiva simbólica, o povo português preenche um espaço imaginário de nostalgia imperial para que se sinta menos só e seja visível nas sete partidas do mundo). FONTE Comunicação e lusofonia.
De fato, o termo lusofonia não se desvinculou ainda do seu caráter eurocêntrico e colonialista. Com a RTP África, a comunicação em língua portuguesa ganhou algum diferencial enquanto potencial estratégico para Portugal. Além de iniciativas mais isoladas. No entanto, a perspectiva cultural na ajuda ao desenvolvimento parece não alcançar o que deveria ser seu real objetivo: incentivar a evolução social dos povos com base na educação. Ontem ouvi uma frase interessante sobre os projetos de cooperação, que a União Européia dá com uma mão e tira com a outra. Sempre que leio algum material (midiático) sobre África tenho percebido que os assuntos na área de cultura primam por valorizar a riqueza e os vastos universos das regiões, suas particularidades, razões e sentidos. Ao passo que as análises econômicas e políticas têm na maioria das vezes uma visão simplista do continente como objeto de exploração. Mas acho muito leviano escrever sobre a África sem ter lá estado, conhecido algum país e suas realidades. E mesmo assim isso ainda seria o olhar do estrangeiro, histórias ditas. As pessoas têm o direiro de escrever, registrar e contar a sua própria história.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Juca Rosa, um feiticeiro no Rio do séc XIX
Nunca tinha ouvido falar em Juca Rosa até ler o artigo de Gabriela Sampaio, da Universidade Estadual de Campinas, estampado no livro África Subsaariana: Multiculturalismo, Poderes e Etnicidades. Com o título "A história do feiticeiro Juca Rosa: matrizes culturais da África Subsaariana em rituais religiosos brasileiros do século XIX", o texto conta a vida do curandeiro Rosa, nascido no Rio em 1833, filho de mãe africana. Segundo a publicação, desde 1860 Rosa liderava uma misteriosa associação, de vasta clientela, atendendo desde escravos libertos a políticos influentes. "Membros de diferentes grupos sociais se deslocavam até sua casa em busca de conselhos e prodigiosas curas". Nos rituais, conta a pesquisadora, Rosa usava uma camisa branca e uma calça de veludo azul com franjas prateadas; na cabeça, um gorro de veludo com franjas e bordas também prateadas. Pai Quibombo era um dos nomes pelo qual era conhecido, pelo visto um dos primeiros pais-de-santo do Rio de Janeiro. O estudo contribui para mostrar a confluência de tradições que ocorria no Brasil imperial e para entender melhor o confronto cultural entre africanos e europeus nas Américas.domingo, 4 de novembro de 2007
Camões em Forro
ê sá flida cu cá dá dôlô, magi ê Sá mó fingui- lóló;
ê sua contentamento sê contento,
ê sá dôlô cu cá fé - a tlapaiá sê pá a sêbê.
Versão para Forro de São Tomé de:
Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer.
Fonte: Pereira, Dulce (2006). O essencial sobre a Língua Portuguesa - Crioulos de base portuguesa. Caminho. Lisboa.
Dinheiro é uma coisa, literatura é outra
O escritor Arnaldo Saraiva entrevistou Drummond em 1981. A conversa foi publicada no Jornal de Letras. Em um dos trechos ele questiona o poeta sobre sua recusa a se candidatar ao Nobel e se o prêmio não seria uma maneira de contribuir para o prestígio internacional das literaturas de língua portuguesa. Veja a resposta:Drummond:
_ Não compreendo bem o sentidos dos prêmios literários. Já recebi alguns e sou grato à lembrança de quem os concedeu, pois há sempre um elemento de simpatia na concessão, e simpatia, se agradece. Mas não sei realmente como se possa premiar uma obra literária. Ela existe e perdura, independentemente de prêmios. Eles não estimulam a criação de outras obras, pois tudo resulta de uma necessidade e compulsão interiores, não de incentivos externos. A dádiva material não significa nada quanto ao futuro dos textos que a motivaram. Dinheiro é uma coisa, literatura é outra. E pouco me importa se meu país será beneficiado com um prêmio individual de literatura. Importa-me sim saber se temos em nossa história um escritor chamado Machado de Assis, e que esse escritor representa condignamente a nossa capacidade de criação e acrescentamento dos valores literários.
Fonte: Saraiva, Arnaldo (2000). Conversas com escritores brasileiros. Comissão Nacional para as Comemoração dos Descobrimentos Portugueses. Porto. \\ Caricatura: Carilho.
...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero...
...Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
sábado, 3 de novembro de 2007
Um filme falado
"Os portugueses andaram por todo o mundo. Os gregos também percorreram o Mediterrâneo e muito para o Oriente. Cerca de 40% dos nossos idiomas têm uma raiz grega". Este é um dos trechos de Um filme falado. A obra, que tem linda paisagem, mostra um diálogo interessante sobre a língua, numa mesa que reúne personagens de várias nacionalidades e cada um fala seu próprio idioma. As três mulheres presentes na mesa são poliglotas. No entanto, elas dizem que não dominam a língua portuguesa. A mulher grega faz uma comparação do idioma luso com o grego no sentido de discutir a propagação de cada um deles. Em determinado momento da conversa multilingue, o comandante (que fala inglês) diz: "não notou que nesta mesa cada um fala sua própria língua? Começo a achar que vocês seriam capazes de recriar uma nova harmoniosa Babel. Onde todos falássemos a mesma língua à sombra da árvore do bem".
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Estudantes africanos passam fome em Portugal
Alunos cabo-verdianos e demais colegas dos PALOP a frequentar o Instituto Politécnico de Viseu vivem "tremendas dificuldades" por não terem acesso a bolsas nem às residências de estudantes, e sobrevivem graças à solidariedade de colegas e professores e de instituições da cidade.Desencanto
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue.
Volúpia ardente...Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias.
Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.
(M. Bandeira)
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Olhos cansados
Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.
Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de cadáveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.
Todos já vimos!
E então?
Wiki: mais de 300 mil artigos em português
Enquanto isso, nos mass media
Terminou hoje o evento II Jornadas Internacionais de Informação e Comunicação nos Mass Media, na UP. O encontro reuniu especialistas de Portugal e Espanha em debate sobre informação e conhecimento, tendo como principal pano de fundo a produção e o gerenciamento de conteúdos digitais. Além dos casos jornalísticos e empresariais, a eterna discussão sobre o futuro dos meios se perpetua. Entre as contribuições dos participantes, algumas considerações do diretor do jornal Público.1. Estamos numa ponte. Mais cedo ou mais tarde o jornalismo de papel vai morrer. Só não sei em que ponto da ponte estamos. Daqui a 15 anos o jornal de papel será feito para um público minoritário. A grande massa de informação estará na internet. A floresta da informação na Internet é densa.
2. Não sou pessimista em dizer que a web 2.0 nivela por baixo. Mas receio que o jornalismo cidadão nos traga alguns problemas. E ainda, corremos o risco de perder a noção de médio e longo prazo, a estrutura da nossa vivência social. Mas o jornalismo de referência continuará a ter o seu lugar.
3. Sobre o texto para Internet. Li um estudo que me surpreendeu. Dizia que o leitor tem mais disposição para ler textos longos no meio online do que no papel. Ao contrário do que se pensa, quando o leitor abre o jornal e se depara com um texto de uma página ou duas ele desanima. Isso mostra que podemos fazer textos longos na Internet.
4. A memória tem um lugar central no jornalismo de referência.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Cultura
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Mares por terra
Nimen hao!Um jornalista português resolveu rentabilizar essa história de lusofonia. Num percurso nada modesto de Lisboa até Pequim Mário Cales terá pela frente 30 mil Km nessa nova roupagem aventuresca que troca velas por rodas, mares por terra, até o Oriente. Sobre uma moto ele traça seus objetivos: "homenagear a amizade luso-chinesa e promover a imagem de marcas e produtos portugueses no país asiático onde ocorrem os Jogos Olímpicos de 2008". Os desdobramentos serão um livro, uma exposição de fotos e vídeos. Acelera...
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Fado Tropical
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
``Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano
uma boa dose de lirismo
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,trucidar
Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...
''Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
``Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa
''Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Português angolanizado: entre o oficial e o nacional
Dez pontos de um artigo interessante que li ontem sobre o português em Angola. Por Joaquim Paulo da Conceição, publicado no livro Comunicação e Lusofonia (Campo das Letras).1. Línguas angolanas, fator de resistência. As autoridades coloniais tiveram-na como algo a abater para destruir o sentimento nacionalista.
2. Censo feito após a independência (Anos 80) constatou: (a) 97,6% dos angolanos falam pelo menos uma das línguas nacionais, (b) 2% têm o português como língua materna, 70% falam exclusivamente uma língua angolana, (c) 28,7% podem falar tanto uma língua angolana como a língua portuguesa.
3. Rádio Nacional Angolana: órgão de maior alcance no domínio da comunicação em línguas angolanas.
4. Português usado como meio oficial de comunicação, língua de Estado, instrumento de internacionalização.
5. Ao longo dos anos o português foi incorporando termos das línguas nacionais, criação de um português angolanizado.
6. O espaço lusófono é uma área cultural e comunicacional.
7. É necessário conservar a língua portuguesa como bem comum dos mais de 200 milhões de falantes.
8. Existe uma linguagem aportuguesada e característica dos angolanos que tende a consolidar-se como um ramo da lusofonia.
9. Como ver o espaço cultural lusófono num mundo cada vez mais globalalizado?
10. Espaço lusófono abriga dois mundos. O mundo gigantesco de países como Brasil e Portugal e seus pólos tecnológicos, e o mundo da massa carente, dos despossuídos, como são os restantes membros da comunidade.
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
O Rio
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refletí-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.
(Manuel Bandeira)
... o rio mostra o caminho.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Impressionista
Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
(Adélia Prado)
Esse poema me lembrou um homem que fez tanta poesia na vida sem saber. Antes de partir, em um dia desses de dezembro, ele me disse: "é, minha filha, esse ano eu não pulo o carnaval".
...e a gente continua amanhecendo.
Já fui ao Brasil, Praia e Bissau ...
Estava assistindo a um programa de TV quando ouvi esta música, Conquistador, e pensei ser uma espécie de hino da lusofonia. O hit foi gravado no final da década de 80 pela banda Da Vinci. Composição: Letra: Pedro Luís / Música: Ricardo
domingo, 14 de outubro de 2007
Acordo em desacordo
O site da CPLP traz uma lista de perguntas e respostas sobre o mitológico Acordo Ortográfico (AO) da Língua Portuguesa, que desafia o tempo. Em 2011 o documento completa seu centenário de empurra-empurra, deixa que eu deixo, diz que me disse e faz que não faz. Em termos de ação multilateral, parece fracassar mais uma vez a força do diálogo, ironicamente, nesta batalha em favor da língua. Há quem considere o AO importante para a sobrevivência do idioma no mundo, sobretudo nas entidades internacionais. Mas há quem o classifique também como supérfluo, tendo em vista as questões muito mais emergenciais nos países do dito espaço lusófono. O documento que a CPLP disponibiliza é bem recente (1/10/07) e pode esclarecer dúvidas nesta fase em que o acordo dá sinais. Veja link:CLIQUE E ACESSE A LISTA DE PERGUTAS FREQUENTES SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Amilcar Cabral: sobre a língua portuguesa
Escreveu Amilcar Cabral sobre a língua portuguesa (livro Literaturas africanas de expressão portguesa - Pires Laranjeira):Há muita coisa que não podemos dizer na nossa língua, mas há pessoas que querem que ponhamos de lado a língua portuguesa, porque nós somos africanos e não queremos a língua de estrangeiros. Esses querem é avançar a sua cabeça, não é o seu povo que querem fazer avançar. Nós, Partido, se queremos levar para a frente nosso povo, para escrevermos, para avançarmos na ciência, a nossa língua tem que ser a portuguesa. É a única coisa que podemos agradecer ao tuga**, ao fato de ele nos ter deixado a sua língua depois de ter roubado tanto da nossa terra.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Jornal de Letras X Lauro Moreira
Confira trecho da entrevista do embaixador brasileiro na CPLP, Lauro Moreira, publicada em agosto no Jornal de Letras (entrevista por Rodrigues da Silva):JL: Qual é o interesse da CPLP para com o Brasil?
Moreira: Num quadro multilateral o Brasil pode reforçar as suas posições. Como o fato de Guiné-Bissau fazer parte da CPLP dá a ela muito mais condições para tentar superar suas dificuldades.
JL: Se o sr. embaixador sair aqui da embaixada e na rua ouvir mil pessoas só por milagres encontrará duas que saibam o que é CPLP. Não sei como é no Brasil.
Moreira: Não é muito diferente, embora esteja a melhorar. O fato de me telefonarem do Brasil, de tudo que é lugar, publicando matérias sobre o Acordo Ortográfico, aí já a coisa interessa, porque já se faz o link com a CPLP.
JL: Qual é a missão da embaixada do Brasil junto à CPLP?
Moreira: Essa Embaixada foi criada pelo governo brasileiro em 2006 (janeiro) e eu estou na função desde agosto. O meu staf, num total de 14 pessoas, é formado por quadros do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e por contratados locais. Atuamos de maneira completamente independente da Embaixada do Brasil junto do Governo Português. O Brasil foi o primeiro país a tomar essa iniciativa de criar uma missão diplomática para tratar com exclusividade os assuntos da CPLP.
JL: Serve para quê o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP)?
Moreira: A meu ver, é o elemento dinamizador da defesa e promoção da língua portuguesa.
JL: O que é Portugal para o brasileiro comum? Não me responda com o chavão.
Moreira: Tradicionalmente, era o meu avozinho. Não é mais. É um país ligado ao brasileiro pelo coração. Todo brasileiro que passa por Portugal gosta.
JL: Mesmo os imigrantes.
Moreira: Mesmo os imigrantes com as dificuldades todas que têm.
JL: Sobre o Brasil, sabemos mais de suas telenovelas e do seu futebol do que seus grandes autores.
Moreira: Sabe qual é o problema de não haver livros brasileiros aqui? É não haver Acordo Ortográfico.
JL: Desculpe, mas não acredito.
Moreira: Sim senhor.
JL: Desculpe, mas para mim a dificuldade em ler brasileiro não tem a ver com as diferenças ortográficas, mas com a sintaxe.
Se me falar em Guimarães Rosa, está certo.
domingo, 7 de outubro de 2007
Desse vinho beberei?
Emigração guineense
As fontes para estudo sobre emigração guineense são raras, senão inexistentes. Assim sendo, para elaborar o tópico, os autores do Dicionário Temático da Lusofonia (Texto Editores, pág. 284) fizeram o estudo com base nos conhecimentos da realidade, e dos fenômenos de emigração, e épocas em que se realizaram. As únicas informações encontradas são do SEF (Serviços de Estrangeiros e Fronteiras).O grande surto de imigração guineense deu-se em 1935 (Senegal e França) com as comunidades manjacas, tendo em vista reforçar os estudos, as pesquisas e a componente formativa, ou a melhoria das condições de vida, com muitos aderentes ao exército francês durante a II Guerra Mundial. Nos anos 50 esse surto dirigiu-se a Portugal, com a chamada primeira geração, cujo objetivo se prendia com a formação, a língua e a cultura portuguesas, como partes integrantes do sistema colonial.
A segunda geração nos anos pós-independência, com todas as conseqüências, concentrou-se em Loures, Amadora, Oeiras, Porto, Coimbra, Alentejo etc. Estima-se que a comunidade guineense residente em Portugal integre 50 mil pessoas divididas em três grupos: muçulmanos, cristãos (católicos e protestantes) e animistas. Segundo dados do SEF português, a mesma comunidade integrava em 2001 em Portugal 17.580 pessoas legalizadas, das quais 10.931 em Lisboa. As restantes estão espalhadas pelas zonas urbanas e do litoral, sendo certo que o número de ilegais ultrapassa o de legais.
Há ainda comunidades da diáspora guineense na Gâmbia, Guiné-Conacri, Espanha, Angola, EUA e Brasil.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Fases da Ortografia Portuguesa (do século XIII à atualidade)
*Fase da ortografia fonética: do século XIII ao XVI. Coincide com o período arcaico da língua, quando os copistas procuravam escrever pautando-se pela pronúncia. Exemplo: não se grafava letra não pronunciada; o h inicial não existia.*Fase pseudo-etimológica: do século XVI até 1904. Caracteriza-se pela influência greco-latina, advinda com o Renascimento. A escrita latina passa a modelo da nossa, inserindo hábitos gráficos clássicos eruditos. Exemplos: rh, th, ph e ch (som de k): theatro. A escrita torna-se mais difícil e pseudo-entendidos determinam as histórias das palavras, defendendo o emprego de grafias desusadas ou equivocadas. Exemplos: egreja, sancto, eschola.
*Fase simplificada: de 1904 até nossos dias. Está diretamente relacionada ao trabalho que Gonçalves Viana publica em 1904, Ortografia Nacional, que revela uma análise da história interna da língua, bem como suas tendências fonéticas. Princípios de seu trabalho: eliminação dos símbolos de etimologia grega th, ph, ch (com som de k), rh, y. (theatro – teatro / pharmacia – farmácia); b) Eliminação de consoantes duplas, exceto rr e ss; c). Eliminação de consoantes mudas (septe – sete / sancto – santo).
Em 1911 o novo sistema tornou-se oficial por um decreto do governo português.
Fonte: HOUAISS, Antônio. A nova ortografia da Língua Portuguesa. Editora Ática, 1991.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Fados, Caetano e bacalhau
Esse fim de semana fui ao cinema e vi o trailer de Fados, que parece ótimo. O filme, do espanhol Carlos Saura, faz parte de uma trilogia, vindo depois de Flamenco e Tango. Só falta agora Sambas, dentro da lógica de alternância/interface Europa e América Latina, espanhol e língua portuguesa. Quero muito assistir. No entanto, um trecho me fez quase levantar da cadeira: Caetano Veloso cantando fado! É muito ruim. Em "Hable com ella", do igualmente espanhol Almodóvar, a performance foi melhor com “Cucurrucucú Paloma”. Tudo bem que Caetano seja cult, né? Agrada a galera blasé. Eu não vou negar que gosto da obra dele, curto suas músicas, mas tem hora que é muita "forçação". Enfim, já que a cantora Adriana Calcanhoto sugere "Vamos comer Caetano" (e em seguida ela mesma diz "nós queremos bacalhau"), depois de Fados, acredito que os portugueses já possam criar um novo prato; Caetano à Gomes de Sá. Chico Buarque e Toni Garrido também estão no elenco, mas no trailer o único que teve a sorte de aparecer cantando é Caetano. Vou esperar para ver inteiro, de repente foi só uma desafinada poética. O filme já teve exibição em Lisboa e foi muito aplaudido, como não poderia deixar de ser, pela própria exaltação da cultura lusa. Essa semana deve chegar por cá.domingo, 30 de setembro de 2007
Variações do mesmo tema
Se alguém te chamar de trugalheiro em Portugal, certamente você tentou saber da vida de alguém. Isso porque, de acordo com os diversos regionalismos que existem no país, a expressão significa pessoa curiosa. Mas tudo depende de onde você pisar. Se estiver aborrecido está também marafado. E se perceberem que você anda à porra ou à massa, então tente levantar o astral pois a expressão quer dizer zanga, briga. Lusofoninha
O imaginário infantil ganhou recentemente uma ponte entre Brasil e Portugal. De olho no mercado lusófono, Mauricio de Sousa criou Antônio Alfacinha, personagem português que pode familiarizar as crianças com as diversificações do nosso idioma. Isso porque o novo membro da turma vem com sotaque lusitano e dialogará com Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali.De acordo com matéria publicada no Jornal do Mundo Lusíada, os gibis deverão ter uma distribuição em todo Brasil e também em Portugal. O sobrenome dele é uma alusão aos lisboetas, divulgou a assessoria de imprensa de Maurício. A proposta é a de que os leitores se divirtam com as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal.
sábado, 29 de setembro de 2007
Língua e guerrilha
Em Moçambique, no período pré-independência a população adquiria o português de forma motivada, especialmente pelo status no plano sócio-cultural, econômico e até ideológico, uma vez que a assimilação do conhecimento pelos africanos significava ascensão social. Quando em 1962 a luta armada contra a metrópole se inicia, a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) escolhe o português como língua de comunicação entre moçambicanos de línguas diferentes envolvidos na ação. As justificativas dos dirigentes da Frelimo baseavam-se no fator lingüístico, afirmando ser a única língua capaz de minimizar as diferenças entre muitas línguas do território, propiciar uma certa unidade no próprio movimento, além, claro, de ajudar a conhecer o opositor comum. Será, portanto, o português a língua dos dois lados da luta: do poder da metrópole e da resistência da colônia.Outra leitura da escolha do português como língua do movimento: necessidade de conhecimento técnico para o manejo do armamento usado na guerra e principalmente aos interesses do grupo dirigente (que não dominava as línguas nacionais) - para a manutenção do seu status de grupo social dominante.
Mas a realidade da guerra mostra que as línguas locais de cada região foram amplamente usadas pelas lideranças para atingirem a população. Em quase todos os discursos políticos, as línguas locais assumem um papel que jamais o português poderia ter.
Com a independência, o português foi usado como língua oficial: comunicação com a comunidade internacional (língua de unidade nacional, era o discurso vigente).
Fonte: Artigo Regina Brito e Neusa Maria Bastos, livro Comunicação e Lusofonia - para uma abordagem crítica da cultura e dos media. Editora: Campo das Letras.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Peito Vazio
Peito Vazio é uma das minhas preferidas do gênio e mestre Cartola. Vale a pena ouvir. (vídeo acima)
Erro de português
ERRO DE PORTUGUÊS (Oswald de Andrade)
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
pierreverger.org
Em artigo do africanista Alberto Costa e Silva, Revista EntreLivros, especial Vozes da África, passagem escrita por Anita de Mello fala um pouco da obra de Pierre Verger (acima, vídeo do documentário Mensageiro entre dois mundos). Diz ela que "as relações entre Brasil e África foram muito mais complexas do que se costuma pensar, para além do tráfico de escravos. Trocas afetivas, culturais, comerciais e mesmo ideológicas se manifestaram e ainda há muito a ser descoberto. Um dos pioneiros na pesquisa sobre Brasil africano e a África brasileira, o francês Pierre Verger (1902-1996), publicou artigos e livros e fotografou durante meio século. Seu acervo fotográfico de mais de 62 mil negativos está guardado na fundação que tem seu nome, cuja sede fica em Salvador". Mais materiais podem ser encontrados em (http://www.pierreverger.org/br/index.htm).
Vale a pena conferir o documentário Pierre Fatumbi* Verger: Mensageiro..., narrado por Gilberto Gil esbanjando francês. A entrevista com Verger, que abraçou a Bahia e o Candomblé, foi feita um dia antes de sua partida deste mundo (11/02/96).
* Fatumbi: nome religioso que assumiu.





