sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Promessa pra São Luís Durão


Meu sapato já furou, com Clara Nunes, é uma boa pedida para virar o ano.

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

... (Cora Coralina)

Lambida multicultural


O ano de 2008 foi declarado "Ano Internacional das Línguas" pela Assembléia Geral das Nações Unidas. A Unesco, encarregada de coordenar as atividades, tenciona assumir de forma resoluta o papel de principal responsável. O 21 de fevereiro de 2008 é o dia do nono Ano Internacional da Língua Materna.

Ver matéria completa

No ponto cego

"Pensar: inventar novas distinções, novos indicadores a partir dos quais se reconstitui o real, estabelecer outros axiomas, modificar as suas percepções, ver de repente no ponto cego, escutar uma mensagem onde ninguém ouviria senão ruído, fazer surgir novos sentidos (...) o pensamento não é senão um outro nome do acordar (...) o poder de um pensamento é proporcional a sua neutralidade, quer dizer, a sua capacidade de se subtrair às dualidades e separações instituídas que encontra no seu caminho".

Fonte: Lévy, Pierre (1987). A Máquina Universo. Epistemologia e sociedade.

Que seja novo enquanto dure

A esperança leva ao abismo do novo, que se aproxima. Promessas de ruptura, dezenas de nunca mais e centenas de chega! Tudo se renova no subconsciente, no subcutâneo.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

boa frase...

...da coluna de leitores da Caros Amigos, de José Jorge:

"Diz a voz do populacho que, a dor mais dolorida de FHC, é que ele ESTÁ CONDENADO, INSTORICAMENTE, A SER uma SIGLA". 

viva o populacho!

Mudez

justiça de povo nunca tem voz...

sábado, 22 de dezembro de 2007

Caravana


De Geraldo Azevedo e Alceu Valença, Caravana é harmonia que toca palavra no fundo do verbo, no apelo singelo da coesão perfeita. Bate em mim e me paralisa.


Corra não pare, não pense demais

Repare essas velas no cais

Que a vida é cigana

É caravana

É pedra de gelo ao sol

Degelou teus olhos tão sós

Num mar de água clara

Goethe "investe" em África

Três novas unidades da instituição deverão ser abertas no próximo ano na África, incluindo uma em Luanda, capital de Angola. Ministério das Relações Exteriores eleva repasse de recursos em mais de 15%.

Fonte: Deutsche Welle

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Etimologia das superstições

O anúncio de um novo ano nos remete a velhos símbolos, como os das superstições. Sempre que pensamos na mistura de vocabulário em países de língua portuguesa fala-se geralmente das expressões das línguas nativas que conseguiram sobreviver e permanecem como legado. Em épocas de reforçar crenças, achei interessante trecho sobre a etimologia da palavra "figa", a qual acredita-se que tenha seguido o caminho inverso, sendo um vocábulo português que ficou nos ritos africanos.

"figa
- Segundo Nei Lopes, em Novo Dicionário Banto do Brasil, poderia ser palavra derivada do suaíli fingo, "amuleto"; contudo, ele não descarta a hipótese contrária, isto é, de se tratar de vocábulo português que ingressou no idioma africano - o que parece ser mais provável. Embora este seja um dos amuletos preferidos pelos seguidores das religiões afro-brasileiras, já era conhecido na pré-história européia. O vocábulo figa vem do Latim fica e aparece também no francês e no espanhol (figue e higa, respectivamente); trata-se, portanto, de uma contribuição do nosso idioma às línguas daqueles povos africanos com que Portugal manteve contato, antes mesmo de descobrir o Brasil. O que muitos não sabem é que a figa sempre teve um evidente conteúdo fálico, em que o polegar representa o membro masculino entre os lábios da vulva feminina; o poder contra o mau-olhado atribuído a este amuleto deriva exatamente da crença primitiva de que o sexo e a fertilidade são forças do bem".

Fonte: http://www.sualingua.com.br

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Mais um ano ou menos um ano?

"Que idade você teria se não soubesse qual idade você tem?"

(Confúcio)

A "africanitude" na "prosopoética" de Mia Couto em Pensatempos

A amplitude da africanidade está na essência do homem plural, em sua complexa diversidade de existências. No entanto, a produção literária feita por autores africanos cresce nas amarras de uma visão antropológica do estigma de ser o retrato fiel de uma sociedade, de um sentimento, de um resgate histórico.

Mia Couto em Pensatempos conta que em uma conferência foi perguntado sobre o que é ser africano. E devolveu a pergunta: “então o que é ser europeu?”. E eis que o curioso não soube responder.

No artigo O que é africanidade, publicado na edição especial número seis da revista EntreLivros, Kabengele Munanga exemplifica a interpretação simplória e reducionista sobre a África.

"Estamos todos acostumados a ler, até nos textos eruditos, os conceitos relacionados à África no singular. Cultura africana, civilização africana, africanidade no seu emprego singular remete, sem dúvida, a uma certa unidade, a uma África única. Mas, diante da extraordinária diversidade e complexidade cultural africana, como é possível conceber uma certa unidade?"

A vida do escritor Mia Couto se confunde com ser africano e também de toda a parte (assim ele se chama criatura de fronteira). Em Pensatempos, relata influências, as alterações de realidade em Moçambique, a reinvenção de pedaços de língua como abolição de códigos; a comparação entre o Sertão e a Savana, e outros temas. Tudo ganha uma perspectiva macro e microscópica. E assim também o autor convida o leitor a esse exercício de elasticidade. Toda essa aglutinação (de idéias, fatos e sensações) passa por duas referências essenciais, justamente o pensamento e o tempo. A maneira de pensar pode ser reflexo, causa ou herança do tempo.

Pensando o tempo a ampulheta da vida se move erguendo e derrubando nossas estruturas reais e imaginadas.

Passa o tempo, pensa o tempo...

domingo, 16 de dezembro de 2007

Dados da África Lusófona

Cabo Verde: população - 500 mil; taxa de alfabetização de adultos - 81,2%. Apresenta uma das melhores taxas de acesso à água potável do continente (80% da população). 

São Tomé e Príncipe: população - 160 mil; taxa de alfabetização de adultos - 84,9%. Por cada 100 mil habitantes, morrem 80 de malária, quatro vezes menos que em Angola. 

Angola: população - 12, 2 milhões; taxa de alfabetização de adultos - 67,4%. Com 9,3%, tem o terceiro maior crescimento econômico de África e desde o fim da guerra civil, em 2002, regressaram 4 milhões de refugiados.

Moçambique: população - 20 milhões; taxa de alfabetização de adultos - 38,7%. É um dos países mais pobres e onde ainda falta quase tudo à população: só 11% dos moçambicanos têm acesso à energia elétrica. 

Guiné-Bissau: população - 1,6 milhões; taxa de alfabetização de adultos - 44, 8%. Depende por completo da assistência internacional. Já é o terceiro pior país do mundo pra se viver, segundo a ONU, e o primeiro narco-Estado de África.

Fonte: revista Visão, dezembro de 2007. Matéria: África Irmã, edição histórica: A nova África - o que está a mudar no continente que amamos. 

sábado, 15 de dezembro de 2007

Vida e morte

Nos primeiros anos da colonização, 6 000 000 de índios falavam, ao todo, mais de mil línguas indígenas. A língua dos Tupinambá (tupi antigo), falada numa extensa área da costa atlântica, passou a ser usada pelos portugueses e seus descendentes, já no século XVI. Foi também adotada pelos Jesuítas para catequização dos índios de diversas culturas.

Fonte: Pereira, Dulce (2006). O essencial sobre a Língua Portuguesa - Crioulos de base portuguesa. Caminho. Lisboa.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Viva o calulu

BOCÁDU .... "Ritual de São Tomé e Príncipe que se realiza na quarta-feira após o Carnaval. Consiste na junção da família em casa do membro mais velho, que, com a mesma colher, dá o calulu (comida tradicional à base de vegetais) como símbolo de unidade e coesão". 

Fonte: Dicionário Temático da Lusofonia, Texto Editores, p. 697.

Tive oportunidade de comer calulu em uma comemoração de são-tomenses, muito bom! 



sábado, 8 de dezembro de 2007

Incenso Fosse Música




isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

(Paulo Leminski)

Novo portal para 2008

A Língua Portuguesa vai dispor, a partir do segundo semestre do próximo ano, de um portal – Lingu@e – que visa pensar a língua em termos práticos. Atualmente o portal, em fase embrionária, está ligado ao http://www.instituto-camoes.pt, mas terá endereço independente. A previsão é de que em finais de maio a página entrará em funcionamento.

Fonte: Jornal O Público (matéria na íntegra)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Achados e perdidos

"A Comunidade luso-brasileira é um mito inventado pelos portugueses. Não é minimamente vivida do outro lado do Atlântico. (...) Que relação pode existir entre o imaginário de um povo de 10 milhões de habitantes, como Portugal, prisioneiro de mitos obsoletos - o Brasil é um deles -, e o de uma país de 150 milhões de almas, entre as quais se encontram pessoas vindas da Itália, Espanha, Alemanha, Europa central, Oriente Médio, Rússia e Japão? (...) Se Portugal absorve, dia e noite, há dezenas de ano, as novelas da Globo, os nossos filmes não conhecem qualquer sucesso no Brasil. Não é apenas uma questão fonética, é porque o código cultural do Brasil contemporâneo está a se afastar, em uma velocidade extraordinária, do velho país europeu que Portugal é. (...) Nada disso é motivo de espanto. Há muito tempo que estamos 'perdidos' para o Brasil, pois há muito mais tempo que nos 'perdemos' no Brasil".

Fonte: Eduardo Lourenço. A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia. Editora Gradativa, 2003.

Ouvi e gostei



João Pedro Pais - Um Resto De Tudo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A China em Portugal

Se na China cresce o interesse pela língua portuguesa, em Portugal o chinês é praticamente um modismo. As salas de aula estão lotadas, as universidades preparam cursos especiais. Ficou na cabeça uma frase de uma professora que me disse que tentar conter a China é como barrar um fenômeno da natureza. Sobre o aprendizado do idioma, parece que a dificuldade também é recíproca: a professora de mandarim Zhang Shuang diz em matéria publicada no jornal do Metro, sobre a explosão do estudo do idioma em terras lusas, que "para um chinês é muito difícil compreender a gramática portuguesa". A leitura, ela acha mais fácil. Em meio a esta sede, quando me dei conta já estava imersa em um universo linguístico com uma lógica totalmente diferente. É fantástico estudar chinês, muito difícil, mas a simbologia dos caracteres é linda e com certeza abre a mente para uma nova observação da vida. Acho que trabalha uma parte do meu cérebro que eu nunca tinha usado (não que eu use muita coisa dele). Essa é a sensação.

O livro mais requisitado por aqui é "Lições de chinês para portugueses", de Lu Yanbin e Wang Suoyung, que já vendeu mais de 20 mil exemplares e está sendo preparada agora uma reedição. Para encomendar este livro é preciso entrar em contato pelo site com o Centro Científico e Cultural de Macau. O idioma tem 56 mil catecteres, mas aprendendo mil é possível saber 90% da língua. Os verbos são empregados sempre no infinitivo, há um caractér antes que indica futuro, por exemplo. Se vier depois, é passado. Não há feminino e masculino, e plural somente quando necessário. A pronúncia tem quatro tons e se misturados podem significar palavras completamente diferentes. Os caracteres são escritos/desenhados de cima para baixo, da esquerda para a direita.

Quanto ao significado e à força da palavra, interessante é a escolha de como ser chamado. Minha professora conta que recebeu outro nome quando esteve na China para estudar. O nome pode dizer muito da pessoa. Deve ter uma associação boa, não é aconselhável que tenha afinidade com vocábulos como morte etc. Um nome mais erudito pode fazer parecer que o cidadão tenha um grau cultural mais elevado, sendo importante até mesmo na hora de procurar emprego.

Provérbio chinês:
"A língua resiste porque é mole; os dentes cedem porque são duros".

* caracter da foto = chinês.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ideologia funerária de África

"O africano vive em familiaridade com a morte, e a morte individual é apenas um momento do círculo vital que não prejudica a continuidade da vida. Mas isso não impede que a morte provoque uma desordem tanto na pessoa do defunto, como entre seus próximos, na sua linhagem e comunidade inteira. Assim, os ritos funerários servem para contornar simbolicamente a desordem e restaurar o equilíbrio emocional do grupo abalado ...

Quando a morte acontece é preciso compor a negatividade que ela representa, proteger-se contra ela, elucidar suas causas para proceder à restauração da ordem. Sobretudo, é importante que o grupo afirme sua coesão e vitalidade, coloque em visibilidade suas energias escondidas com vistas a uma nova partida: os grandes funerais africanos são festas ruidosas que reúnem pessoas de todas as idades num ambiente de excitação sustentada pelas danças, cantos, arengas, ritmos dos tambores, comidas e libações ...

Pouco a pouco a atenção se desvia da morte real, inaceitável em sua dimensão individual e afetiva, para se içar ao plano simbólico no qual a morte é a garantia de uma excelente vida ...

Assim funciona a ideologia funerária de África tradicional: o morto impuro e perigoso é transformado em ancestral protetor e reverenciado, a morte é transformada em vida".

Fonte: Munanga, Kabengele (2005). O que é africanidade. In: Revista EntreLivros, Vozes da África - a riqueza artística e cultural do continente. Edição especial número 6.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Blogodependência


Programa de humor português Hora H.

Promessa é dívida

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu na última quarta-feira (14) ao presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo Nino Vieira, que enviará ao Congresso pedido para perdão da dívida de US$ 34 milhões que o país africano tem com o Brasil.

Lula informou ainda que a Petrobras e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participarão de missões na Guiné-Bissau. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, comprometeu-se a visitar o país em fevereiro de 2008.

O presidente ressaltou que as duas nações têm acordos bilaterais que movimentam US$ 2 milhões. Durante a visita de Nino Vieira, Brasil e Guiné-Bissau firmaram quatro acordos de cooperação, entre os quais, parcerias no combate à malária e no desenvolvimento de produtos a partir do caju.

Fonte: Portugal Digital

José Craveirinha


Memória do Festival Internacional de Poesia de Medellín, poema Grito negro.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Árvore inteira

"Para nós brasileiros, a língua portuguesa é a árvore inteira. É a língua nativa e seminal, e não imposta ou empresatada. Nela, e com ela, nascemos e somos".

Ledo Ivo no artigo A situação do escritor brasileiro diante da língua portuguesa.
Jornalismo e literatura, atas do II Encontro Afro-Luso-Brasileiro.

!Acho muito forte dizer que o português não foi uma língua imposta (ainda que no sentido de superação), mas com certeza no Brasil não é mesmo uma língua emprestada.

Do nonsense ao repugnante

"Embora ao leitor brasileiro o tema da lusofonia praticamente não faça o menor sentido (o que é ótimo e dói nos ouvidos portugueses), para os países africanos recém-saídos do - e destruídos pelo - período colonial, a temática lusófona é, no mínimo, repugnante. Mas é preciso alertar ao potencial público objeto da ideologia "lusófona", os falantes de português, a não jogar o jogo da lusofonia, seja por subordinação causada pela miséria (no caso de Moçambique, Angola, São Tomé, Cabo Verde e Guiné), seja por desprezo (no caso do Brasil). Entre outras causas, é justamente por esse grande desprezo da opinião pública brasileira, que o mecanismo da CPLP pode curvar-se ao lusofonismo tacanho do governo português. Para imigrantes brasileiros e africanos das ex-colônias, entretanto, o discurso da lusofonia é uma armadilha terrível, pois o espaço lusófono, como mito que é, nunca se realizará na prática. A busca por direitos `especiais` baseados na lusofonia por parte de associações imigrantes oriundas do desastre colonial português, além de infecunda, apenas reforça essa ideologia-estrume."

Fonte: Igor José de Renó Machado (Unicamp) (artigo sobre o livro "A Lusofonia e os lusófonos"). MARGARIDO, Alfredo. 2000. A Lusofonia e os Lusófonos: Novos Mitos Portugueses. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas. 89 pp.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Português: língua partida

O governo luso prepara alterações no ensino de português no exterior para adaptar a língua portuguesa às novas realidades e afirmar-se como uma das mais faladas no mundo, disse nesta sexta-feira o secretário de Estado da Educação.

Essa mudança de estratégia é necessária para "promover o ensino do português como instrumento de afirmação de Portugal no mundo"."É preciso fazer sair o ensino de português dos meios onde tem estado integrado --universidades e em algumas comunidades--, apostar na consolidação da certificação da aprendizagem do português e fazer valer o português como uma das línguas mais faladas no mundo. É a terceira língua ocidental mais falada no mundo".

Fonte: Agência Lusa - matéria na íntegra.

Enquanto isso, na China:

Universidades ensinam português na China continental. Poucas para as necessidades, à medida que o português vem se tornando cada vez menos uma língua de poetas e de livros, de descobridores e de jogadores de futebol e cada vez mais uma língua de cifrões, letras de crédito e de negociações de preços.

Tan Lixin, da Câmara de Comércio de Zhuhai, cidade fronteira a Macau, que organizou recentemente um curso básico de português comercial, calcula que faltam cerca de dois mil profissionais que falem português, para dar resposta às necessidades das empresas chinesas.

"A procura é muito grande para facilitar a relações entre os mercados lusófonos e as empresas com negócios com o exterior," afirma Tan. As relações diplomáticas cada vez mais intensas e o aumento das trocas comerciais fazem com que mais chineses queiram aprender português.

Fonte: Agência Lusa - matéria na íntegra.

XXXX

No último congresso de lusofonia, em outubro em Bragança, estudiosos como Bechara e Malaca Casteleiro reafirmaram a língua portuguesa na variante brasileira como mais didática ao ensino. No entanto, o Brasil, maior país de luso-falantes, ainda não acordou para tais questões no âmbito da política cultural para criar mercado de trabalho, sobretudo.

Geometria dos Ventos

Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos nem linguagem específica,
não respeita sequer os limites do idioma.
Ela flui, como um rio.

(Rachel de Queiroz)

Evento

Estão abertas as inscrições para o 3º Encontro Açoriano da Lusofonia em S. Miguel (Açores), de 8-11 de maio, que este ano terá a presença dos acadêmicos MALACA CASTELEIRO (ACADEMIDA DE CIENCIAS DE LISBOA) E EVANILDO BECHARA (ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL). Todas as informações e inscrições em: http://LUSOFONIAZORES2008.com.sapo.pt

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Garantias ao idioma português no exterior

Lisboa, 19 nov (Lusa) - O deputado do PSD pela Emigração Carlos Gonçalves exigiu nesta segunda-feira ao governo que assegure o ensino de português no exterior, no final de uma visita à Alemanha, onde cerca de 300 alunos estão ainda sem aulas.

"Exijo que o Ministério da Educação cumpra o dever fundamental que é proporcionar o ensino da língua portuguesa aos portugueses no estrangeiro", disse o deputado à agência Lusa.

De acordo com Carlos Gonçalves, que termina hoje uma visita de três dias a Stuttgart (Alemanha) a Estrasburgo (França), há nove escolas naquela região alemã onde ainda não começaram as aulas de português.

"Cinco dessas escolas estão sem português por razões administrativas - pessoas que se reformaram ou que estão doentes - enquanto nas outras quatro, a coordenadora de ensino propôs a abertura de mais cursos, mas o Ministério da Educação não aceitou", indicou o deputado, que manteve contato com várias associações de pais e com professores.

“É inaceitável que, em 2007, um governo e um Ministério da Educação deixem centenas de crianças sem aulas por razões administrativas", destacou, acrescentando que neste caso particular devem estar sem aulas cerca de 300 alunos portugueses.

Carlos Gonçalves disse ainda estar apreensivo com a transferência da tutela do ensino de português no exterior do Ministério da Educação para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), por não estar previsto qualquer orçamento no MNE para esta área.

"Em 2008/09, o ensino vai passar para a tutela do MNE, que tem orçamentados zero euros para o ensino do português no exterior. Fico preocupado", afirmou o deputado.

A visita de Carlos Gonçalves à Alemanha ocorreu na véspera da visita que o secretário de Estado das Comunidades portuguesas, António Braga, tem também agendada para aquele país.

O titular da pasta da Emigração inicia terça-feira uma visita de três dias à Alemanha para inaugurar as novas instalações do consulado de Portugal em Hamburgo.

Fonte: Agência Lusa

Canto das Três Raças




Composição: Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro

Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil

Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador

Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor.

Sistema de ensino em Timor Leste

Apesar de Timor Leste ter proclamado sua independência,  o sistema de ensino ainda é muito influenciado pela herança do modelo indonésio. Ensino primário, oito anos (pré-primária, dois anos; primária, seis anos). Ciclo preparatório, três anos. Ensino secundário e formação profissional, três anos. Ensino superior, cinco anos (politécnico, três anos, mais dois anos de ensino complementar; ensino universitário). 

Fonte: Dicionário Temático da Lusofonia, Texto Editores. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Abc do Sertão

Lá no meu sertão
Pros caboclo lê
Tem qui aprendê
Um outro ABC

O jota é ji
E o éle é lê
O ésse é si
Mas o érre
Tem nome de rê

Até o ypsilon
Lá é pissilone
O ême é mê
O éfe é fê
O gê chama-se guê

Na escola é engraçado
Ouvir-se tanto ê
A BÊ CÊ DÊ FÊ GUÊ LÊ MÊ NÊ PÊ QUÊ RÊ TÊ VÊ e ZÊ


Geraldo Azevedo;
composição: Luiz Gonzaga / Zé Dantas

Pensares de Inocência

"De cunho e causa portuguesas, os africanos oscilam entre a aceitação e recusa da lusofonia, enquanto entre os brasileiros o termo não tem história".

"A lusofonia devia ser uma noção cheia de pulsão contra a hegemonia da língua inglesa, mas está muito voltada para dentro".

"Há muita coisa boa da literatura moçambicana que não chega a Angola e vice-versa. Em Portugal, ninguém conhece os escritores guineenses e para um são-tomense ir a Angola é um inferno".

"Se o Brasil não entrar na guerra da lusofonia, a guerra está perdida".

Inocência Mata (professora e ensaísta são-tomense)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O tempo e a saudade

O tempo existe e a saudade persiste. Dizem que é palavra única em nossa língua portuguesa. Mas que vale o argumento se o sentir dispensa idioma. É transnacional e transmissível. Saudade é recurso da memória. O tempo não tem aviso prévio, e se manifesta do nada, quando menos esperamos, no momento em que tomamos uma decisão completamente diferente daquela que teríamos no ano passado, ou no instante inacabado. Chamamos isso de maturidade e ainda queremos ser maduros sem envelhecer. Quanto ocidentalismo em vão. O valor do tempo quem dá somos nós... mas a saudade persiste enquanto houver memória.   
(apenas um pensamento para perder tempo). 

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Mercado de almas

Curriculum Vitae

Que é necessário fazer?
É necessário preencher um requerimento
E anexar um curriculum vitae.

Qualquer que seja a duração da vida
O C. V. deve ser sucinto.
Recomenda-se a concisão e uma boa seleção dos dados.
Transformar o que era paisagem em endereço.
E as vagas lembranças em datas fixas.

De todos os amores, basta o conjugal,
De todos os filhos, só os que nasceram.
Quem te conhece, não quem conheces.
Viagens, só ao exterior.
Filiações sem as razões.
Distinções sem menção ao mérito.

Escreva como se nem te conhecesses.
Como se te mantivesses sempre à distância de ti.
Silêncio total sobre cães, gatos, passarinhos,
Lembranças, amigos e sonhos.

Prêmios, mais que o valor.
Títulos, mais que a relevância.
Número dos sapatos, e não onde eles vão.
Anexar uma foto com orelhas bem visíveis.
É a forma delas que conta, e não o que elas ouvem.
E o que é que elas ouvem?
Barulho de máquinas de picar papel.

(Wislawa Szymborska, poeta polonesa, nasceu em 1923 e ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1996).

Retirado do blog: http://diariogauche.blogspot.com/

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Café com Osama

Em Moçambique, apelidaram o açúcar de Bin Laden, nome dado por mukherista (contrabandistas).  "Estabeleceu-se uma analogia entre a procura desenfreada que os americanos levaram a cabo para descobrir Bin Laden e a busca que as autoridades moçambicanas fazem do açúcar vindo do exterior. Bin Laden está escondido debaixo das montanhas, o açúcar, quando o trazem do exterior, é escondido debaixo de todas as mercadorias para não ser descoberto". 

Fonte: Dicionário Temático da Lusofonia. 

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Quatro momentos da Literatura Africana

1. Momento inicial: alienação e predomínio do modelo europeu Ex.: O escravo (José Evaristo de Almeida, 1856, considerado o primeiro romance de Cabo Verde).

2. Maior consciência regionalista, com descrições do meio social, geografia, cultura. Ex.: textos da Revista Claridade

3. A tomada de consciência da condição de colonizado liberta o autor, que traz para suas obras as raízes profundas da realidade social, nacional, entendida dialeticamente. Ex.: autores militantes.

4. Independência nacional. É de todo eliminada a dependência dos escritores africanos e reconstruída sua plena individualidade.  

Fonte: António Custódio Gonçalves. África Subsariana, multiculturalisos, poderes e etnicidades. FLUP. 

Na roda da vida



O programa Roda Viva traz um site com todas as entrevistas em vídeo e transcritas, no endereço http://rodaviva.fapesp.br. Ainda em desenvolvimento, a página é um precioso acervo para recordar momentos importantes de nossa história. No vídeo acima, Heródoto Barbeiro relembra dois encontros tensos com Quércia (94) e um dos ícones do folclore da política nacional: Brizola (87).

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mia Rosa, Guimarães Couto

"O meu país tem países diversos dentro, profundamente dividido entre universos culturais e sociais variados. Sou moçambicano, filho de portugueses, vivi o sistema colonial, combati pela independência, vivi mudanças radicais do socialismo ao capitalismo, da revolução à guerra civil. Nasci num tempo de charneira, entre um mundo que nasceu e outro que morria. Entre uma pátria que nunca houve e outra que ainda está nascendo. Essa condição de um ser de fronteira marcou-me para sempre. As duas partes de mim exigiam um médium, um tradutor. A poesia veio em meio socorro para criar essa ponte entre dois mundos distantes.

E foi poesia que me deu o prosador João Guimarães Rosa. Quando o li pela primeira vez experimentei uma sensação que já tinha sentido quando escutava os contadores de história da infância. Perante o texto eu não simplesmente lia: eu ouvia vozes da infância. Os livros de Rosa me atiravam para fora da escrita como se, de repente, eu me tivesse convertido num analfabeto seletivo. Para entrar naqueles textos eu devia fazer uso de um outro ato que não é ler mas que pede um verbo que ainda não tem nome. Mais do que a invenção das palavras, o que me tocou foi a emergência de uma poesia que me fazia sair do mundo, que me fazia inexistir. Aquela era uma linguagem em estado de transe".

Fonte: Mia Couto no livro Pensatempos.

Boaventura de Sousa Santos analisa...

Tudo leva a crer que estejamos perante uma nova partilha de África. A do final do século XIX foi protagonizada pelos países europeus em busca de matérias-primas que sustentassem o desenvolvimento capitalista e tomou a forma de dominação colonial. A do início do século XXI tem um conjunto de protagonistas mais amplo e ocorre através de relações bilaterais entre países independentes. Para além dos “velhos” países europeus, a partilha inclui agora os EUA, a China, outros países “emergentes” (Índia, Brasil, Israel, etc.) e mesmo um país africano, a África do Sul. Mas a luta continua a ser por recursos naturais (desta vez, sobretudo petróleo) e continua a ser musculada, com componentes econômicos, diplomáticos e militares. Tragicamente, tal como antes, é bem possível que a grande maioria dos povos africanos pouco beneficie da exploração escandalosamente lucrativa dos seus recursos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Arte no barbante


CORDEL

Desafio

*** Tom Zé e Gilberto Assis

Doutor: Meus senhores, vou lhes apresentar
A figura do homem popular,
Esse tipo idiota e muquirana
É um bicho que imita a raça humana.

O homem: O doutor exagera e desatina
Pois quando o pobre tem no seu repasto
O direito à escola e proteína
O seu cérebro cresce qual um astro
E começa a nascer pra todo lado
Jesus Cristo e muito Fidel Castro

Refrão:
Africará mingüê e favelará
mérica de verme que deusará
Iocuné Tatuapé Irará

Doutor: Veja o pobre de hoje: quer tratar
Do direito, da lei, ecologia.
É na merda que eles vão parar
Ou na peste, maleita, hidropisia.

O homem: Mas o Direito, na sua amplitude
Serve o grande e o pequeno também.
Além disso quem chega-se à virtude
E da lei se aproxima e se convém
Tá mostrando ao doutor solicitude
Por querer o que dele advém.

Refrão:
Africará minguê ... ... etc.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Cena pitoresca

Estava eu pedindo um inocente sanduba num café quando chega perto de mim um senhor e me pergunta:

_Você é brasileira?
Eu digo:
_Sim
E ele:
_Eu não gosto de brasileiro. Só conheci um que prestasse. Esse é como se fosse um irmão para mim.
Eu respondo:
_Bom, o senhor está no seu direito. Mas isso não tem nada a ver com nacionalidade. Há gente boa e ruim em toda a parte.

Levei em conta a idade do senhor e tentei colocar em prática mais uma vez alguns preceitos budistas (na minha meta de alcançar a iluminação em Portugal). Ele voltou pro lugar dele e antes de eu ir embora me pediu para não ficar chateada. Vai entender! Ainda bem que ele não estava de bengala.

Nas partidas do mundo

Eduardo Lourenço disse sobre a lusofonia "não sejamos hipócritas, mas sobretudo voluntariamente cegos: o sonho de uma Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, bem ou mal sonhado, é por natureza - que é sobretudo histórica e mitológica - um sonho de raiz, de estrutura de intenção e amplitude lusíada".

Para ele, há dois aspectos fundamentais sobre lusofonia: (1) a língua (e para isso reconhecer a diversidade é preciso) e (2) a cultura (sob perspectiva simbólica, o povo português preenche um espaço imaginário de nostalgia imperial para que se sinta menos só e seja visível nas sete partidas do mundo). FONTE Comunicação e lusofonia.

De fato, o termo lusofonia não se desvinculou ainda do seu caráter eurocêntrico e colonialista. Com a RTP África, a comunicação em língua portuguesa ganhou algum diferencial enquanto potencial estratégico para Portugal. Além de iniciativas mais isoladas. No entanto, a perspectiva cultural na ajuda ao desenvolvimento parece não alcançar o que deveria ser seu real objetivo: incentivar a evolução social dos povos com base na educação. Ontem ouvi uma frase interessante sobre os projetos de cooperação, que a União Européia dá com uma mão e tira com a outra. Sempre que leio algum material (midiático) sobre África tenho percebido que os assuntos na área de cultura primam por valorizar a riqueza e os vastos universos das regiões, suas particularidades, razões e sentidos. Ao passo que as análises econômicas e políticas têm na maioria das vezes uma visão simplista do continente como objeto de exploração. Mas acho muito leviano escrever sobre a África sem ter lá estado, conhecido algum país e suas realidades. E mesmo assim isso ainda seria o olhar do estrangeiro, histórias ditas. As pessoas têm o direiro de escrever, registrar e contar a sua própria história.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Juca Rosa, um feiticeiro no Rio do séc XIX

Nunca tinha ouvido falar em Juca Rosa até ler o artigo de Gabriela Sampaio, da Universidade Estadual de Campinas, estampado no livro África Subsaariana: Multiculturalismo, Poderes e Etnicidades. Com o título "A história do feiticeiro Juca Rosa: matrizes culturais da África Subsaariana em rituais religiosos brasileiros do século XIX", o texto conta a vida do curandeiro Rosa, nascido no Rio em 1833, filho de mãe africana. Segundo a publicação, desde 1860 Rosa liderava uma misteriosa associação, de vasta clientela, atendendo desde escravos libertos a políticos influentes. "Membros de diferentes grupos sociais se deslocavam até sua casa em busca de conselhos e prodigiosas curas". Nos rituais, conta a pesquisadora, Rosa usava uma camisa branca e uma calça de veludo azul com franjas prateadas; na cabeça, um gorro de veludo com franjas e bordas também prateadas. Pai Quibombo era um dos nomes pelo qual era conhecido, pelo visto um dos primeiros pais-de-santo do Rio de Janeiro. O estudo contribui para mostrar a confluência de tradições que ocorria no Brasil imperial e para entender melhor o confronto cultural entre africanos e europeus nas Américas.

Ela finaliza: "partindo da história de Juca Rosa chegamos à grande influência de tradições culturais da África Centro-Ocidental nas origens do que se conhece hoje como umbanda e candomblé, religiões afro-brasileiras de grande popularidade em todo o país, entre pessoas provenientes de grupos populares mas também entre intelectuais e membros das elites políticas e econômicas".

domingo, 4 de novembro de 2007

Enredo deste samba


Salve Dona Ivone Lara!

Camões em Forro

Amuêlê sá ua Fôgô cu cá lêdê sê pá abê;
ê sá flida cu cá dá dôlô, magi ê Sá mó fingui- lóló;
ê sua contentamento sê contento,
ê sá dôlô cu cá fé - a tlapaiá sê pá a sêbê.

Versão para Forro de São Tomé de:

Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer.

Fonte: Pereira, Dulce (2006). O essencial sobre a Língua Portuguesa - Crioulos de base portuguesa. Caminho. Lisboa.

Dinheiro é uma coisa, literatura é outra

O escritor Arnaldo Saraiva entrevistou Drummond em 1981. A conversa foi publicada no Jornal de Letras. Em um dos trechos ele questiona o poeta sobre sua recusa a se candidatar ao Nobel e se o prêmio não seria uma maneira de contribuir para o prestígio internacional das literaturas de língua portuguesa. Veja a resposta:

Drummond:

_ Não compreendo bem o sentidos dos prêmios literários. Já recebi alguns e sou grato à lembrança de quem os concedeu, pois há sempre um elemento de simpatia na concessão, e simpatia, se agradece. Mas não sei realmente como se possa premiar uma obra literária. Ela existe e perdura, independentemente de prêmios. Eles não estimulam a criação de outras obras, pois tudo resulta de uma necessidade e compulsão interiores, não de incentivos externos. A dádiva material não significa nada quanto ao futuro dos textos que a motivaram. Dinheiro é uma coisa, literatura é outra. E pouco me importa se meu país será beneficiado com um prêmio individual de literatura. Importa-me sim saber se temos em nossa história um escritor chamado Machado de Assis, e que esse escritor representa condignamente a nossa capacidade de criação e acrescentamento dos valores literários.

Fonte: Saraiva, Arnaldo (2000). Conversas com escritores brasileiros. Comissão Nacional para as Comemoração dos Descobrimentos Portugueses. Porto. \\ Caricatura: Carilho.

...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero...

...Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

sábado, 3 de novembro de 2007

Um filme falado


"Os portugueses andaram por todo o mundo. Os gregos também percorreram o Mediterrâneo e muito para o Oriente. Cerca de 40% dos nossos idiomas têm uma raiz grega". Este é um dos trechos de Um filme falado. A obra, que tem linda paisagem, mostra um diálogo interessante sobre a língua, numa mesa que reúne personagens de várias nacionalidades e cada um fala seu próprio idioma. As três mulheres presentes na mesa são poliglotas. No entanto, elas dizem que não dominam a língua portuguesa. A mulher grega faz uma comparação do idioma luso com o grego no sentido de discutir a propagação de cada um deles. Em determinado momento da conversa multilingue, o comandante (que fala inglês) diz: "não notou que nesta mesa cada um fala sua própria língua? Começo a achar que vocês seriam capazes de recriar uma nova harmoniosa Babel. Onde todos falássemos a mesma língua à sombra da árvore do bem".

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Estudantes africanos passam fome em Portugal

Alunos cabo-verdianos e demais colegas dos PALOP a frequentar o Instituto Politécnico de Viseu vivem "tremendas dificuldades" por não terem acesso a bolsas nem às residências de estudantes, e sobrevivem graças à solidariedade de colegas e professores e de instituições da cidade.

A fome que um estudante de um País Africano de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) sentia acabou um dia por superar a resistência imposta pela vergonha, quando pediu a uma professora que lhe pagasse pão e leite num supermercado.

A situação momentânea deste aluno ficou resolvida, mas revelou um problema que abrange dezenas de estudantes oriundos dos PALOP colocados no Instituto Politécnico de Viseu (IPV).

Sem bolsas que permitam pagar a alimentação, as propinas (800 euros anuais divididos em quatro prestações) e o alojamento, Vanda Cabral, Carlos Alves e Ramaliel Neves, cabo-verdianos, descreveram à Agência Lusa as "tremendas dificuldades" que vivem para concluir os estudos em Portugal.

Não acusam ninguém por não terem dinheiro que lhes permita viver com o mínimo de comodidade, nem o Governo da Cidade de Cabo Verde que não lhes paga bolsas, nem o IPV por lhes negar o acesso às residências para estudantes.

"A lei é assim", lamentam, embora sublinhem que "com boa vontade" este problema poderia ser ultrapassado.

Só que a verdade, como explica Carlos Alves, de 29 anos, estudante de Marketing na Escola Superior de Tecnologia do IPV, "é apenas uma": muitos "passam fome", vestem-se com a "caridade de colegas e professores" e a Caritas de Viseu tem sido "uma grande ajuda" com a distribuição periódica de roupas e alimentos.


"Debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo, forjar no trigo o milagre do pão, e se fartar de pão. Decepar a cana, recolher a garapa da cana, roubar da cana a doçura do mel, se lambuzar de mel. Afagar a terra, conhecer os desejos da terra, cio da terra, a propícia estação. E fecundar o chão".

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...

Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue.
Volúpia ardente...Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias.
Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
deixando um acre sabor na boca.

Eu faço versos como quem morre.

(M. Bandeira)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Olhos cansados

MENINAS E MENINOS (Fernando Sylvan)

Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de cadáveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos!
E então?

Wiki: mais de 300 mil artigos em português

A Wikipédia em português já tem mais de 300 mil artigos. De acordo com nota do Público, o artigo 300 mil foi sobre uma autarquia da Florida chamada Utopia. Que ironia...

Enquanto isso, nos mass media

Terminou hoje o evento II Jornadas Internacionais de Informação e Comunicação nos Mass Media, na UP. O encontro reuniu especialistas de Portugal e Espanha em debate sobre informação e conhecimento, tendo como principal pano de fundo a produção e o gerenciamento de conteúdos digitais. Além dos casos jornalísticos e empresariais, a eterna discussão sobre o futuro dos meios se perpetua. Entre as contribuições dos participantes, algumas considerações do diretor do jornal Público.

1. Estamos numa ponte. Mais cedo ou mais tarde o jornalismo de papel vai morrer. Só não sei em que ponto da ponte estamos. Daqui a 15 anos o jornal de papel será feito para um público minoritário. A grande massa de informação estará na internet. A floresta da informação na Internet é densa.

2. Não sou pessimista em dizer que a web 2.0 nivela por baixo. Mas receio que o jornalismo cidadão nos traga alguns problemas. E ainda, corremos o risco de perder a noção de médio e longo prazo, a estrutura da nossa vivência social. Mas o jornalismo de referência continuará a ter o seu lugar.

3. Sobre o texto para Internet. Li um estudo que me surpreendeu. Dizia que o leitor tem mais disposição para ler textos longos no meio online do que no papel. Ao contrário do que se pensa, quando o leitor abre o jornal e se depara com um texto de uma página ou duas ele desanima. Isso mostra que podemos fazer textos longos na Internet.

4. A memória tem um lugar central no jornalismo de referência.

Macau insubstituível

Repórteres do jornal de Hong Kong Ta King Pao viajaram por quatro países de língua portuguesa e concluíram que as relações sobre as nações lusófonas e a China seguem de vento em popa. O papel de Macau nesse contexto é considerado insubstituível.

Outras notícias sobre Macau

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Cultura

... é um conjunto global de crenças, idéias, hábitos, normas de vida, valores, processos técnicos, produtos e artefatos, que o indivíduo adquire da sociedade como um legado tradicional e não em consequência de sua própria atividade criadora.

(Sérgio B. de Holanda)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Mares por terra

Nimen hao!

Um jornalista português resolveu rentabilizar essa história de lusofonia. Num percurso nada modesto de Lisboa até Pequim Mário Cales terá pela frente 30 mil Km nessa nova roupagem aventuresca que troca velas por rodas, mares por terra, até o Oriente. Sobre uma moto ele traça seus objetivos: "homenagear a amizade luso-chinesa e promover a imagem de marcas e produtos portugueses no país asiático onde ocorrem os Jogos Olímpicos de 2008". Os desdobramentos serão um livro, uma exposição de fotos e vídeos. Acelera...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Fado Tropical

(Chico Buarque e Ruy Guerra)

Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
``Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano
uma boa dose de lirismo
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,trucidar
Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...

''Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

``Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa

''Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Português angolanizado: entre o oficial e o nacional

Dez pontos de um artigo interessante que li ontem sobre o português em Angola. Por Joaquim Paulo da Conceição, publicado no livro Comunicação e Lusofonia (Campo das Letras).

1. Línguas angolanas, fator de resistência. As autoridades coloniais tiveram-na como algo a abater para destruir o sentimento nacionalista.

2. Censo feito após a independência (Anos 80) constatou: (a) 97,6% dos angolanos falam pelo menos uma das línguas nacionais, (b) 2% têm o português como língua materna, 70% falam exclusivamente uma língua angolana, (c) 28,7% podem falar tanto uma língua angolana como a língua portuguesa.

3. Rádio Nacional Angolana: órgão de maior alcance no domínio da comunicação em línguas angolanas.

4. Português usado como meio oficial de comunicação, língua de Estado, instrumento de internacionalização.

5. Ao longo dos anos o português foi incorporando termos das línguas nacionais, criação de um português angolanizado.

6. O espaço lusófono é uma área cultural e comunicacional.

7. É necessário conservar a língua portuguesa como bem comum dos mais de 200 milhões de falantes.

8. Existe uma linguagem aportuguesada e característica dos angolanos que tende a consolidar-se como um ramo da lusofonia.

9. Como ver o espaço cultural lusófono num mundo cada vez mais globalalizado?

10. Espaço lusófono abriga dois mundos. O mundo gigantesco de países como Brasil e Portugal e seus pólos tecnológicos, e o mundo da massa carente, dos despossuídos, como são os restantes membros da comunidade.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O Rio

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refletí-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.

(Manuel Bandeira)

... o rio mostra o caminho.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Impressionista

Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
(Adélia Prado)

Esse poema me lembrou um homem que fez tanta poesia na vida sem saber. Antes de partir, em um dia desses de dezembro, ele me disse: "é, minha filha, esse ano eu não pulo o carnaval".
...e a gente continua amanhecendo.

Já fui ao Brasil, Praia e Bissau ...

Estava assistindo a um programa de TV quando ouvi esta música, Conquistador, e pensei ser uma espécie de hino da lusofonia. O hit foi gravado no final da década de 80 pela banda Da Vinci.
Conquistador
Da Vinci
Composição: Letra: Pedro Luís / Música: Ricardo

Era um mundo novo
Um sonho de poetas
Ir até ao fim
Cantar novas vitórias
E ergueram orgulhosas bandeiras
Viver aventuras guerreiras

Foram mil epopéias
Vidas tão cheias
Foram oceanos de amor

Refrão

Já fui ao Brasil
Praia e Bissau
Angola Moçambique
Goa e Macau
Ai, fui até Timor

Já fui um conquistador

Era todo um povo
Guiado pelos céus
Espalhou-se pelo mundo
Seguindo os seus heróis
E levaram a luz da cultura
Semearam laços de ternura
Foram mil epopéias
Vidas tão cheias
Foram oceanos de amor

Repete refrão

Foram dias e dias
E meses e anos no mar
Percorrendo uma estrada de estrelas
A conquistar

Já fui ao Brasil, Praia e Bissau ...

domingo, 14 de outubro de 2007

Acordo em desacordo

O site da CPLP traz uma lista de perguntas e respostas sobre o mitológico Acordo Ortográfico (AO) da Língua Portuguesa, que desafia o tempo. Em 2011 o documento completa seu centenário de empurra-empurra, deixa que eu deixo, diz que me disse e faz que não faz. Em termos de ação multilateral, parece fracassar mais uma vez a força do diálogo, ironicamente, nesta batalha em favor da língua. Há quem considere o AO importante para a sobrevivência do idioma no mundo, sobretudo nas entidades internacionais. Mas há quem o classifique também como supérfluo, tendo em vista as questões muito mais emergenciais nos países do dito espaço lusófono. O documento que a CPLP disponibiliza é bem recente (1/10/07) e pode esclarecer dúvidas nesta fase em que o acordo dá sinais. Veja link:

CLIQUE E ACESSE A LISTA DE PERGUTAS FREQUENTES SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Amilcar Cabral: sobre a língua portuguesa

Escreveu Amilcar Cabral sobre a língua portuguesa (livro Literaturas africanas de expressão portguesa - Pires Laranjeira):

A língua é o instrumento que o homem criou através do trabalho, da luta, para comunicar com os outros. E isso deu-lhe uma grande força nova, porque ninguém mais ficou fechado consigo mesmo. Foi o primeiro meio de comunicação natural que houve, a língua. Mas o mundo avançou muito, nós não avançamos muito, tanto como o mundo.

Há muita coisa que não podemos dizer na nossa língua, mas há pessoas que querem que ponhamos de lado a língua portuguesa, porque nós somos africanos e não queremos a língua de estrangeiros. Esses querem é avançar a sua cabeça, não é o seu povo que querem fazer avançar. Nós, Partido, se queremos levar para a frente nosso povo, para escrevermos, para avançarmos na ciência, a nossa língua tem que ser a portuguesa. É a única coisa que podemos agradecer ao tuga**, ao fato de ele nos ter deixado a sua língua depois de ter roubado tanto da nossa terra.
___________________________________________
**Tuga(s) é uma expressão utilizada para designar o(s) portugues(es), tal como acontece com Lusitanos. É uma abreviatura de Portuga. Termo popularizado no decurso da Guerra Colonial.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Jornal de Letras X Lauro Moreira

Confira trecho da entrevista do embaixador brasileiro na CPLP, Lauro Moreira, publicada em agosto no Jornal de Letras (entrevista por Rodrigues da Silva):

JL: Qual é o interesse da CPLP para com o Brasil?
Moreira: Num quadro multilateral o Brasil pode reforçar as suas posições. Como o fato de Guiné-Bissau fazer parte da CPLP dá a ela muito mais condições para tentar superar suas dificuldades.

JL: Se o sr. embaixador sair aqui da embaixada e na rua ouvir mil pessoas só por milagres encontrará duas que saibam o que é CPLP. Não sei como é no Brasil.
Moreira: Não é muito diferente, embora esteja a melhorar. O fato de me telefonarem do Brasil, de tudo que é lugar, publicando matérias sobre o Acordo Ortográfico, aí já a coisa interessa, porque já se faz o link com a CPLP.

JL: Qual é a missão da embaixada do Brasil junto à CPLP?
Moreira: Essa Embaixada foi criada pelo governo brasileiro em 2006 (janeiro) e eu estou na função desde agosto. O meu staf, num total de 14 pessoas, é formado por quadros do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e por contratados locais. Atuamos de maneira completamente independente da Embaixada do Brasil junto do Governo Português. O Brasil foi o primeiro país a tomar essa iniciativa de criar uma missão diplomática para tratar com exclusividade os assuntos da CPLP.

JL: Serve para quê o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP)?
Moreira: A meu ver, é o elemento dinamizador da defesa e promoção da língua portuguesa.

JL: O que é Portugal para o brasileiro comum? Não me responda com o chavão.
Moreira: Tradicionalmente, era o meu avozinho. Não é mais. É um país ligado ao brasileiro pelo coração. Todo brasileiro que passa por Portugal gosta.

JL: Mesmo os imigrantes.
Moreira: Mesmo os imigrantes com as dificuldades todas que têm.

JL: Sobre o Brasil, sabemos mais de suas telenovelas e do seu futebol do que seus grandes autores.
Moreira: Sabe qual é o problema de não haver livros brasileiros aqui? É não haver Acordo Ortográfico.

JL: Desculpe, mas não acredito.
Moreira: Sim senhor.

JL: Desculpe, mas para mim a dificuldade em ler brasileiro não tem a ver com as diferenças ortográficas, mas com a sintaxe.
Se me falar em Guimarães Rosa, está certo.

domingo, 7 de outubro de 2007

Desse vinho beberei?

Clique na imagem acima para conhecer uma tradição do Douro chamada Lagarada. Nela, pisar em uvas para obtenção do vinho se transforma em atividade para exercitar as pernas e experimentar uma sensação diferente, considerada até mesmo terapêutica. Só que para entrar nessa brincadeira não é preciso lavar os pés. A festa é aberta ao público e para participar a ordem é não se preocupar com o fator higiene. Ao contrário, quanto menos, melhor (Ui!). Diz o senhor entrevistado, "é assim que o vinho sai bem". O outro complementa: "quanto mais sujo o pé melhor, o vinho fica com mais graduação, mais gás". No final todo mundo se lava num baldão cheio d' água e ganha a rua, onde a celebração prossegue.

Emigração guineense

As fontes para estudo sobre emigração guineense são raras, senão inexistentes. Assim sendo, para elaborar o tópico, os autores do Dicionário Temático da Lusofonia (Texto Editores, pág. 284) fizeram o estudo com base nos conhecimentos da realidade, e dos fenômenos de emigração, e épocas em que se realizaram. As únicas informações encontradas são do SEF (Serviços de Estrangeiros e Fronteiras).

O grande surto de imigração guineense deu-se em 1935 (Senegal e França) com as comunidades manjacas, tendo em vista reforçar os estudos, as pesquisas e a componente formativa, ou a melhoria das condições de vida, com muitos aderentes ao exército francês durante a II Guerra Mundial. Nos anos 50 esse surto dirigiu-se a Portugal, com a chamada primeira geração, cujo objetivo se prendia com a formação, a língua e a cultura portuguesas, como partes integrantes do sistema colonial.

A segunda geração nos anos pós-independência, com todas as conseqüências, concentrou-se em Loures, Amadora, Oeiras, Porto, Coimbra, Alentejo etc. Estima-se que a comunidade guineense residente em Portugal integre 50 mil pessoas divididas em três grupos: muçulmanos, cristãos (católicos e protestantes) e animistas. Segundo dados do SEF português, a mesma comunidade integrava em 2001 em Portugal 17.580 pessoas legalizadas, das quais 10.931 em Lisboa. As restantes estão espalhadas pelas zonas urbanas e do litoral, sendo certo que o número de ilegais ultrapassa o de legais.

Há ainda comunidades da diáspora guineense na Gâmbia, Guiné-Conacri, Espanha, Angola, EUA e Brasil.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Fases da Ortografia Portuguesa (do século XIII à atualidade)

*Fase da ortografia fonética: do século XIII ao XVI. Coincide com o período arcaico da língua, quando os copistas procuravam escrever pautando-se pela pronúncia. Exemplo: não se grafava letra não pronunciada; o h inicial não existia.

*Fase pseudo-etimológica: do século XVI até 1904. Caracteriza-se pela influência greco-latina, advinda com o Renascimento. A escrita latina passa a modelo da nossa, inserindo hábitos gráficos clássicos eruditos. Exemplos: rh, th, ph e ch (som de k): theatro. A escrita torna-se mais difícil e pseudo-entendidos determinam as histórias das palavras, defendendo o emprego de grafias desusadas ou equivocadas. Exemplos: egreja, sancto, eschola.

*Fase simplificada: de 1904 até nossos dias. Está diretamente relacionada ao trabalho que Gonçalves Viana publica em 1904, Ortografia Nacional, que revela uma análise da história interna da língua, bem como suas tendências fonéticas. Princípios de seu trabalho: eliminação dos símbolos de etimologia grega th, ph, ch (com som de k), rh, y. (theatro – teatro / pharmacia – farmácia); b) Eliminação de consoantes duplas, exceto rr e ss; c). Eliminação de consoantes mudas (septe – sete / sancto – santo).

Em 1911 o novo sistema tornou-se oficial por um decreto do governo português.

Fonte: HOUAISS, Antônio. A nova ortografia da Língua Portuguesa. Editora Ática, 1991.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Fados, Caetano e bacalhau

Esse fim de semana fui ao cinema e vi o trailer de Fados, que parece ótimo. O filme, do espanhol Carlos Saura, faz parte de uma trilogia, vindo depois de Flamenco e Tango. Só falta agora Sambas, dentro da lógica de alternância/interface Europa e América Latina, espanhol e língua portuguesa. Quero muito assistir. No entanto, um trecho me fez quase levantar da cadeira: Caetano Veloso cantando fado! É muito ruim. Em "Hable com ella", do igualmente espanhol Almodóvar, a performance foi melhor com “Cucurrucucú Paloma”. Tudo bem que Caetano seja cult, né? Agrada a galera blasé. Eu não vou negar que gosto da obra dele, curto suas músicas, mas tem hora que é muita "forçação". Enfim, já que a cantora Adriana Calcanhoto sugere "Vamos comer Caetano" (e em seguida ela mesma diz "nós queremos bacalhau"), depois de Fados, acredito que os portugueses já possam criar um novo prato; Caetano à Gomes de Sá. Chico Buarque e Toni Garrido também estão no elenco, mas no trailer o único que teve a sorte de aparecer cantando é Caetano. Vou esperar para ver inteiro, de repente foi só uma desafinada poética. O filme já teve exibição em Lisboa e foi muito aplaudido, como não poderia deixar de ser, pela própria exaltação da cultura lusa. Essa semana deve chegar por cá.

OLHA ela aí, bom apetite: "Vamos comer Caetano / Vamos desfrutá-lo / Vamos comer Caetano / Vamos começá-lo / Vamos comer Caetano / Vamos devorá-lo degluti-lo, mastigá-lo / Vamos lamber a língua / Nós queremos bacalhau / A gente quer sardinha / O homem do pau-brasil / O homem da Paulinha / pelado por bacantes / num espetáculo / Banquete-ê-mo-nos / Ordem e orgia na superbacanal / Carne e carnaval / Pelo óbvio / Pelo incesto / Vamos comer Caetano / Pela frente pelo verso / Vamos comê-lo cru / Vamos comer Caetano / Vamos começá-lo / Vamos comer Caetano / Vamos revelar-mo-nus."

domingo, 30 de setembro de 2007

Variações do mesmo tema

Se alguém te chamar de trugalheiro em Portugal, certamente você tentou saber da vida de alguém. Isso porque, de acordo com os diversos regionalismos que existem no país, a expressão significa pessoa curiosa. Mas tudo depende de onde você pisar. Se estiver aborrecido está também marafado. E se perceberem que você anda à porra ou à massa, então tente levantar o astral pois a expressão quer dizer zanga, briga.
Para saber mais, CLIQUE na imagem e veja matéria da SIC sobre regionalismos em Portugal. A reportagem percorre o país de Norte a Sul mostrando os contrastes dos termos entre variados cantos. Ao pensar a língua portuguesa como um bem cultural fragmentado, descobrindo ainda suas nuances dentro do território genuinamente luso, cada vez mais o idioma se coloca no plano do mítico.

Lusofoninha

O imaginário infantil ganhou recentemente uma ponte entre Brasil e Portugal. De olho no mercado lusófono, Mauricio de Sousa criou Antônio Alfacinha, personagem português que pode familiarizar as crianças com as diversificações do nosso idioma. Isso porque o novo membro da turma vem com sotaque lusitano e dialogará com Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali.

De acordo com matéria publicada no Jornal do Mundo Lusíada, os gibis deverão ter uma distribuição em todo Brasil e também em Portugal. O sobrenome dele é uma alusão aos lisboetas, divulgou a assessoria de imprensa de Maurício. A proposta é a de que os leitores se divirtam com as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal.

sábado, 29 de setembro de 2007

Língua e guerrilha

Em Moçambique, no período pré-independência a população adquiria o português de forma motivada, especialmente pelo status no plano sócio-cultural, econômico e até ideológico, uma vez que a assimilação do conhecimento pelos africanos significava ascensão social. Quando em 1962 a luta armada contra a metrópole se inicia, a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) escolhe o português como língua de comunicação entre moçambicanos de línguas diferentes envolvidos na ação. As justificativas dos dirigentes da Frelimo baseavam-se no fator lingüístico, afirmando ser a única língua capaz de minimizar as diferenças entre muitas línguas do território, propiciar uma certa unidade no próprio movimento, além, claro, de ajudar a conhecer o opositor comum. Será, portanto, o português a língua dos dois lados da luta: do poder da metrópole e da resistência da colônia.

Outra leitura da escolha do português como língua do movimento: necessidade de conhecimento técnico para o manejo do armamento usado na guerra e principalmente aos interesses do grupo dirigente (que não dominava as línguas nacionais) - para a manutenção do seu status de grupo social dominante.

Mas a realidade da guerra mostra que as línguas locais de cada região foram amplamente usadas pelas lideranças para atingirem a população. Em quase todos os discursos políticos, as línguas locais assumem um papel que jamais o português poderia ter.

Com a independência, o português foi usado como língua oficial: comunicação com a comunidade internacional (língua de unidade nacional, era o discurso vigente).

Fonte: Artigo Regina Brito e Neusa Maria Bastos, livro Comunicação e Lusofonia - para uma abordagem crítica da cultura e dos media. Editora: Campo das Letras.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Peito Vazio

Peito Vazio é uma das minhas preferidas do gênio e mestre Cartola. Vale a pena ouvir. (vídeo acima)

Erro de português

Esse poema pra mim é o encontro perfeito entre palavra e significado. E nos joga diretamete para o simbólico. Fala por si em nome da crítica à aculturação e situa o abismo para com o outro.

ERRO DE PORTUGUÊS (Oswald de Andrade)

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

pierreverger.org

Em artigo do africanista Alberto Costa e Silva, Revista EntreLivros, especial Vozes da África, passagem escrita por Anita de Mello fala um pouco da obra de Pierre Verger (acima, vídeo do documentário Mensageiro entre dois mundos). Diz ela que "as relações entre Brasil e África foram muito mais complexas do que se costuma pensar, para além do tráfico de escravos. Trocas afetivas, culturais, comerciais e mesmo ideológicas se manifestaram e ainda há muito a ser descoberto. Um dos pioneiros na pesquisa sobre Brasil africano e a África brasileira, o francês Pierre Verger (1902-1996), publicou artigos e livros e fotografou durante meio século. Seu acervo fotográfico de mais de 62 mil negativos está guardado na fundação que tem seu nome, cuja sede fica em Salvador". Mais materiais podem ser encontrados em (http://www.pierreverger.org/br/index.htm).

Vale a pena conferir o documentário Pierre Fatumbi* Verger: Mensageiro..., narrado por Gilberto Gil esbanjando francês. A entrevista com Verger, que abraçou a Bahia e o Candomblé, foi feita um dia antes de sua partida deste mundo (11/02/96).

* Fatumbi: nome religioso que assumiu.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

História do Circo no Brasil

A história do circo no Brasil não vem do parlamento nem reside no ponto da marmelada, mas remonta o século XIX com as lonas estrangeiras que fomentaram a arte. Antes disso, no entanto, grupos de saltimbancos ligados às companhias de teatro faziam apresentações em todos o país, fato que é considerado como a origem de tudo para alguns historiadores. Mas a história oficial registra o nascimento em 1828, com o português Manoel Antônio da Silva. Ele apresentou num ato só uma dança sobre um cavalo a galope, usando como local de exibição uma residência particular. No séc. XIX a primeira companhia estrangeira foi o Circo Bragassi (1830). Famílias circenses estrangeiras acabaram por incentivar a arte no Brasil. A partir da II Guerra o teatro buscou espaço no circo. Era uma oportunidade de os artistas se apresentarem usando uma montagem ágil e simples. Grande Otelo e Dercy Gonçalves foram atores que participaram do circo-teatro e fizeram sucesso com as obras "Coração materno", "O colar perdido" etc. Destacaram-se durante o século XX os palhaços Chicharrão (José Carlos Queirolo), Piolim (Abelardo Pinto), Arrelia (Waldemar Seyssel) e, o mais popular, Carequinha (George Savalla Gomes). Em 1982 foi criada a Escola Nacional de Circo. O Sindicato dos circos estimou em 2002 a existência de 400 circos no Brasil (entre pequenos e grandes).

Fonte: Dicionário Temático da Lusofonia.

Receita de marmelada

Ingredientes:
1kg de marmelo limpo
1kg de açúcar
1dl de água

Preparação: Levar os marmelos cortados em pedaços ao lume com o açúcar e a água. Deixar cozer bem. Quando tudo estiver cozido, reduzir a puré com a varinha mágica, de modo a ficar uma mistura homogénea. Deixar ferver mais um pouco até atingir o ponto de estrada. Deitar em tacinhas e deixar secar com uma tampa de papel vegetal embebida em aguardente.

Uma reflexão

Não tens o que possuis,
Tens aquilo que dás.

Acima do que sabes,
Vale aquilo que és.

Sobre a própria palavra,
Olha as ações que crias.

Mais além do que podes,
Importa o que toleras.

De tudo quanto crês,
Vale mais o que fazes.

Em tudo quanto sofras,
Guarda a fé viva em Deus.

(Emmanuel, Chico Xavier)

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Agualusa em jogo rápido

Diz o escritor José Eduardo Agualusa, em entrevista ao Jornal de Notícias, num jogo rapidíssimo de respostas bem diretas:

Alguns trechos...

Valoriza mais a imaginação ou a capacidade de ser ágil?

Agualusa: Imaginação é essencial, inteligência também. Esforço-me para escrever com elegância. Elegância tem a ver com simplicidade.

É possível justificar racionalmente a necessidade absoluta de escrever?

Agualusa: Nunca senti necessidade absoluta de escrever - como de comer ou fazer amor. Escrever é um prazer, não uma angústia como o cigarro para o fumador.

Dizer-se afro-luso-brasileiro é a sua melhor definição de nacionalidade?

Agualusa: Sou não-nacionalista. O nacionalismo conduz quase sempre ao ódio ao outro, quando, afinal, o outro somos sempre nós.

Acredita, como Zumbi, que o Brasil ainda não se descolonizou?

Agualusa: Precisa completar essa descolonização. Seria importante que todos os brasileiros tivessem acesso ao poder, o que não acontece ainda com as populações indígenas e de origem africana.

Que Portugal há hoje em Angola que não o do usurpador que colonizou?

Agualusa: A língua, evidentemente, o catolicismo, o futebol, o gosto pelo bacalhau e pela má-língua.

Um excepcional escritor pode ser uma má pessoa?

Agualusa: Provavelmente. Conheço torturadores em Angola, que interrogaram e torturaram presos políticos em 77, e são recebidos em Portugal como bons escritores.

Tamancada em reunião da UE

Saiu no jornal Destak, distribuído gratuitamente: A reunião constitutiva da Comissão temporária sobre as alterações climáticas em Estrasburgo ficou marcada pela ausência de uma cabine de interpretação em língua portuguesa. Situação considerada absurda pela deputada Edite Estrela, visto que o português é a terceira língua européia mais falada no mundo e a sexta no contexto mundial, falada por mais de 200 milhões de pessoas de todos os continentes. A deputada remeteu o caso para o presidente da Comissão Européia, com pedido de uma rápida tomada de providências para que a situação não se repita. Isso que é subir nas tamancas!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Quero descer

Pára tudo que eu quero descer! Veja o que é a falta de sono. Zappeando pelos vastos três canais que pegam na minha televisão, na madruga de terça-feira vejo um programa chamado Trio Maravilha. Destaque inevitável para a participação de Alexandre Frota....fazendo comédia (Jésus!).... e tentando abafar o X do seu "carioquex". Depois de meia hora assistindo àquela programação reparei que precisava realizar exercícios na face, já que não consegui mover um só músculo após sucessivas piadas luso-brasileiras. Aí lembrei daqueles salutares avisos de TV: não nos responsabilizamos pelo conteúdo desta programação. Tá vendo aí, depois dizem que não existe intercâmbio cultural. Há uma linha na Wikipédia dedicada ao Trio Maravilha, que diz assim: é uma série portuguesa da TVI que estreou em 2005. E ponto.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Unidos do Funk-Samba-Luso

Estava quase "a dormir" na biblioteca quando fui acordada por um coral de duzentos calouros da universidade cantanto "Tô ficando atoladinha". Fui conferir lá fora e um povo numeroso e enumerado cantava no trote o hit à capela com direito a coreografias de popozudas... ou "popolusas". No jeito de cantar, nenhum traço de sotaque portucalense, tudo em brasileiro, como dizem por aqui. É impressionante a penetração do funk do Brasil em Portugal, está na propaganda da TV, nas festas e nos carros com som alto que passam pela rua. Por aí não pára: meu vizinho esse fim de semana deu uma festa ao som de funk, Beto Barbosa(Adocica) e Bruno e Marrone. Não vi ainda muito destaque para o samba, ao contrário do forró. Outro dia mesmo gravei umas músicas da Marisa Monte para uma amiga conhecer e ela me respondeu: "ah, eu gosto mesmo é de Calcinha Preta!".