segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Falamos português ou brasileiro afinal?

"Nós falamos a mesma língua, mas às vezes não nos entendemos". É fato. Mas ouvi essa frase da boca de um professor que formava a banca de um mestrado, cuja tese em defesa teve de ser entregue em português de Portugal mesmo sendo a estudante brasileira.

Antes, porém, em sala de aula, a professora entrega para a turma um texto escrito por Emir Sader e diz: "mas está em brasileiro". Fico me perguntando se essa não seria também uma negação da história. Depois me disseram que isso é comum, pois para muita gente em Portugal falamos "brasileiro". Que gosto tem essa língua, amargo, ácido ou doce?

Em todo caso, vale muito a pena ler o texto, em brasileiro, de Emir Sader, Capitalismo contra Democracia, CLICANDO AQUI.

Só a literatura salva

O escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martínez esteve em uma universidade do Porto, em palestra para uma turma de comunicação. Entre suas obras, Santa Evita foi traduzida para 25 idiomas e publicada em mais de 30 países. O conjunto de sua produção já foi considerado o fenômeno literário mais importante da América Latina depois de Cem anos de solidão, segundo NY Times e London Review of Books.

A palestra foi de grande valor. Mas estudante de jornalismo é sempre igual, seja no Brasil ou em Portugal. Enquanto o senhor Martínez claramente queria falar de literatura, os estudantes faziam questionamentos intermináveis cujas perguntas demoravam mais que o tempo que restava ao autor para as respostas. Os alunos entendiam o espanhol e o escritor não conseguia entender o português de Portugal. Então foi necessária a ajuda de um intérprete.

O escritor então sabiamente achou o ponto ideal de sua fala focando a explanação em Jornalismo e Literatura e falou sobre como foi descoberto através da literatura o processo de identificação do leitor. E que o novo jornalismo conta a verdade com a técnica da "novela".

- Para narrar é preciso olhar cada ser humano como se o estivesse descobrindo. A investigação é o laço que une jornalismo e literatura. Nesse processo, a imaginação se enfia nos espaços vazios da realidade. Mas é preciso dizer que a literatura é um ato de liberdade, e o jornalismo não. Escrever é muito mais perigoso que ler. A imaginação é muito mais perigosa que a realidade - lindo!

Mc Marcinho no Porto

Em Portugal as comunidades mais pobres são chamadas de bairros sociais. A palavra bairro, no sentido que usamos, é freguesia. Esse é um bairro social do Porto chamado Bairro do Carvalhido. Não é uma área de pobreza propriamente dita mas os espaços se caracterizam pelas roupas penduradas nas janelas e varandas dos prédios.

Outro dia teve show do Mc Marcinho no Porto e fiquei imaginando se ele iria adaptar aquela música pra "eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente no bairro social onde eu nasci, É!"

Pelas vias do cotidiano

"Explicar o significado de uma palavra é descrever como ela é utilizada, e descrever como ela é utilizada é descrever o intercurso social em que ela entra". (Pesquisa Social, Tim May)

A definição é realmente boa para mostrar como a expressão entra por vias bem distintas no cotidiano de brasileiros e portugueses.

"Todo brasileiro que cá vem leva uma foto desta. Acho que é porque no Brasil a palavra tem outro sentido, não é, menina?", diz a vendedora de porras, quer dizer, de churros, que trabalha no Palácio de Cristal, um dos pontos turísticos do Porto.

Quando aqui pisei

Ao chegar em terras lusitanas, a rádio já dava um sinal da influência da música brasileira. O som era "Quero que vá tudo pro inferno", regravada pela banda GNR.

Clique para ouvir...

A GNR (Grupo Novo Rock), sigla que também é Guarda Nacional Republicana, é uma banda portuguesa formada desde a década de 80 no Porto.