domingo, 30 de setembro de 2007

Variações do mesmo tema

Se alguém te chamar de trugalheiro em Portugal, certamente você tentou saber da vida de alguém. Isso porque, de acordo com os diversos regionalismos que existem no país, a expressão significa pessoa curiosa. Mas tudo depende de onde você pisar. Se estiver aborrecido está também marafado. E se perceberem que você anda à porra ou à massa, então tente levantar o astral pois a expressão quer dizer zanga, briga.
Para saber mais, CLIQUE na imagem e veja matéria da SIC sobre regionalismos em Portugal. A reportagem percorre o país de Norte a Sul mostrando os contrastes dos termos entre variados cantos. Ao pensar a língua portuguesa como um bem cultural fragmentado, descobrindo ainda suas nuances dentro do território genuinamente luso, cada vez mais o idioma se coloca no plano do mítico.

Lusofoninha

O imaginário infantil ganhou recentemente uma ponte entre Brasil e Portugal. De olho no mercado lusófono, Mauricio de Sousa criou Antônio Alfacinha, personagem português que pode familiarizar as crianças com as diversificações do nosso idioma. Isso porque o novo membro da turma vem com sotaque lusitano e dialogará com Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali.

De acordo com matéria publicada no Jornal do Mundo Lusíada, os gibis deverão ter uma distribuição em todo Brasil e também em Portugal. O sobrenome dele é uma alusão aos lisboetas, divulgou a assessoria de imprensa de Maurício. A proposta é a de que os leitores se divirtam com as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal.

sábado, 29 de setembro de 2007

Língua e guerrilha

Em Moçambique, no período pré-independência a população adquiria o português de forma motivada, especialmente pelo status no plano sócio-cultural, econômico e até ideológico, uma vez que a assimilação do conhecimento pelos africanos significava ascensão social. Quando em 1962 a luta armada contra a metrópole se inicia, a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) escolhe o português como língua de comunicação entre moçambicanos de línguas diferentes envolvidos na ação. As justificativas dos dirigentes da Frelimo baseavam-se no fator lingüístico, afirmando ser a única língua capaz de minimizar as diferenças entre muitas línguas do território, propiciar uma certa unidade no próprio movimento, além, claro, de ajudar a conhecer o opositor comum. Será, portanto, o português a língua dos dois lados da luta: do poder da metrópole e da resistência da colônia.

Outra leitura da escolha do português como língua do movimento: necessidade de conhecimento técnico para o manejo do armamento usado na guerra e principalmente aos interesses do grupo dirigente (que não dominava as línguas nacionais) - para a manutenção do seu status de grupo social dominante.

Mas a realidade da guerra mostra que as línguas locais de cada região foram amplamente usadas pelas lideranças para atingirem a população. Em quase todos os discursos políticos, as línguas locais assumem um papel que jamais o português poderia ter.

Com a independência, o português foi usado como língua oficial: comunicação com a comunidade internacional (língua de unidade nacional, era o discurso vigente).

Fonte: Artigo Regina Brito e Neusa Maria Bastos, livro Comunicação e Lusofonia - para uma abordagem crítica da cultura e dos media. Editora: Campo das Letras.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Peito Vazio

Peito Vazio é uma das minhas preferidas do gênio e mestre Cartola. Vale a pena ouvir. (vídeo acima)

Erro de português

Esse poema pra mim é o encontro perfeito entre palavra e significado. E nos joga diretamete para o simbólico. Fala por si em nome da crítica à aculturação e situa o abismo para com o outro.

ERRO DE PORTUGUÊS (Oswald de Andrade)

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

pierreverger.org

Em artigo do africanista Alberto Costa e Silva, Revista EntreLivros, especial Vozes da África, passagem escrita por Anita de Mello fala um pouco da obra de Pierre Verger (acima, vídeo do documentário Mensageiro entre dois mundos). Diz ela que "as relações entre Brasil e África foram muito mais complexas do que se costuma pensar, para além do tráfico de escravos. Trocas afetivas, culturais, comerciais e mesmo ideológicas se manifestaram e ainda há muito a ser descoberto. Um dos pioneiros na pesquisa sobre Brasil africano e a África brasileira, o francês Pierre Verger (1902-1996), publicou artigos e livros e fotografou durante meio século. Seu acervo fotográfico de mais de 62 mil negativos está guardado na fundação que tem seu nome, cuja sede fica em Salvador". Mais materiais podem ser encontrados em (http://www.pierreverger.org/br/index.htm).

Vale a pena conferir o documentário Pierre Fatumbi* Verger: Mensageiro..., narrado por Gilberto Gil esbanjando francês. A entrevista com Verger, que abraçou a Bahia e o Candomblé, foi feita um dia antes de sua partida deste mundo (11/02/96).

* Fatumbi: nome religioso que assumiu.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

História do Circo no Brasil

A história do circo no Brasil não vem do parlamento nem reside no ponto da marmelada, mas remonta o século XIX com as lonas estrangeiras que fomentaram a arte. Antes disso, no entanto, grupos de saltimbancos ligados às companhias de teatro faziam apresentações em todos o país, fato que é considerado como a origem de tudo para alguns historiadores. Mas a história oficial registra o nascimento em 1828, com o português Manoel Antônio da Silva. Ele apresentou num ato só uma dança sobre um cavalo a galope, usando como local de exibição uma residência particular. No séc. XIX a primeira companhia estrangeira foi o Circo Bragassi (1830). Famílias circenses estrangeiras acabaram por incentivar a arte no Brasil. A partir da II Guerra o teatro buscou espaço no circo. Era uma oportunidade de os artistas se apresentarem usando uma montagem ágil e simples. Grande Otelo e Dercy Gonçalves foram atores que participaram do circo-teatro e fizeram sucesso com as obras "Coração materno", "O colar perdido" etc. Destacaram-se durante o século XX os palhaços Chicharrão (José Carlos Queirolo), Piolim (Abelardo Pinto), Arrelia (Waldemar Seyssel) e, o mais popular, Carequinha (George Savalla Gomes). Em 1982 foi criada a Escola Nacional de Circo. O Sindicato dos circos estimou em 2002 a existência de 400 circos no Brasil (entre pequenos e grandes).

Fonte: Dicionário Temático da Lusofonia.

Receita de marmelada

Ingredientes:
1kg de marmelo limpo
1kg de açúcar
1dl de água

Preparação: Levar os marmelos cortados em pedaços ao lume com o açúcar e a água. Deixar cozer bem. Quando tudo estiver cozido, reduzir a puré com a varinha mágica, de modo a ficar uma mistura homogénea. Deixar ferver mais um pouco até atingir o ponto de estrada. Deitar em tacinhas e deixar secar com uma tampa de papel vegetal embebida em aguardente.

Uma reflexão

Não tens o que possuis,
Tens aquilo que dás.

Acima do que sabes,
Vale aquilo que és.

Sobre a própria palavra,
Olha as ações que crias.

Mais além do que podes,
Importa o que toleras.

De tudo quanto crês,
Vale mais o que fazes.

Em tudo quanto sofras,
Guarda a fé viva em Deus.

(Emmanuel, Chico Xavier)

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Agualusa em jogo rápido

Diz o escritor José Eduardo Agualusa, em entrevista ao Jornal de Notícias, num jogo rapidíssimo de respostas bem diretas:

Alguns trechos...

Valoriza mais a imaginação ou a capacidade de ser ágil?

Agualusa: Imaginação é essencial, inteligência também. Esforço-me para escrever com elegância. Elegância tem a ver com simplicidade.

É possível justificar racionalmente a necessidade absoluta de escrever?

Agualusa: Nunca senti necessidade absoluta de escrever - como de comer ou fazer amor. Escrever é um prazer, não uma angústia como o cigarro para o fumador.

Dizer-se afro-luso-brasileiro é a sua melhor definição de nacionalidade?

Agualusa: Sou não-nacionalista. O nacionalismo conduz quase sempre ao ódio ao outro, quando, afinal, o outro somos sempre nós.

Acredita, como Zumbi, que o Brasil ainda não se descolonizou?

Agualusa: Precisa completar essa descolonização. Seria importante que todos os brasileiros tivessem acesso ao poder, o que não acontece ainda com as populações indígenas e de origem africana.

Que Portugal há hoje em Angola que não o do usurpador que colonizou?

Agualusa: A língua, evidentemente, o catolicismo, o futebol, o gosto pelo bacalhau e pela má-língua.

Um excepcional escritor pode ser uma má pessoa?

Agualusa: Provavelmente. Conheço torturadores em Angola, que interrogaram e torturaram presos políticos em 77, e são recebidos em Portugal como bons escritores.

Tamancada em reunião da UE

Saiu no jornal Destak, distribuído gratuitamente: A reunião constitutiva da Comissão temporária sobre as alterações climáticas em Estrasburgo ficou marcada pela ausência de uma cabine de interpretação em língua portuguesa. Situação considerada absurda pela deputada Edite Estrela, visto que o português é a terceira língua européia mais falada no mundo e a sexta no contexto mundial, falada por mais de 200 milhões de pessoas de todos os continentes. A deputada remeteu o caso para o presidente da Comissão Européia, com pedido de uma rápida tomada de providências para que a situação não se repita. Isso que é subir nas tamancas!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Quero descer

Pára tudo que eu quero descer! Veja o que é a falta de sono. Zappeando pelos vastos três canais que pegam na minha televisão, na madruga de terça-feira vejo um programa chamado Trio Maravilha. Destaque inevitável para a participação de Alexandre Frota....fazendo comédia (Jésus!).... e tentando abafar o X do seu "carioquex". Depois de meia hora assistindo àquela programação reparei que precisava realizar exercícios na face, já que não consegui mover um só músculo após sucessivas piadas luso-brasileiras. Aí lembrei daqueles salutares avisos de TV: não nos responsabilizamos pelo conteúdo desta programação. Tá vendo aí, depois dizem que não existe intercâmbio cultural. Há uma linha na Wikipédia dedicada ao Trio Maravilha, que diz assim: é uma série portuguesa da TVI que estreou em 2005. E ponto.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Unidos do Funk-Samba-Luso

Estava quase "a dormir" na biblioteca quando fui acordada por um coral de duzentos calouros da universidade cantanto "Tô ficando atoladinha". Fui conferir lá fora e um povo numeroso e enumerado cantava no trote o hit à capela com direito a coreografias de popozudas... ou "popolusas". No jeito de cantar, nenhum traço de sotaque portucalense, tudo em brasileiro, como dizem por aqui. É impressionante a penetração do funk do Brasil em Portugal, está na propaganda da TV, nas festas e nos carros com som alto que passam pela rua. Por aí não pára: meu vizinho esse fim de semana deu uma festa ao som de funk, Beto Barbosa(Adocica) e Bruno e Marrone. Não vi ainda muito destaque para o samba, ao contrário do forró. Outro dia mesmo gravei umas músicas da Marisa Monte para uma amiga conhecer e ela me respondeu: "ah, eu gosto mesmo é de Calcinha Preta!".

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Quem tem medo de política cultural?

Em tempos de imediatismo, a política cultural esbarra cada vez no emergencial. Mas a funcionalidade do recurso é fato, sobretudo para o Brasil, que ainda não acordou para este potencial estratégico: segundo a Federação Internacional dos Professores de Francês (FDLM), a procura pelo português aumentou 20% depois do Ano do Brasil na França. No aspecto econômico, a ação veio acompanhada por um progresso do turismo de 27% e pela escolha do Brasil como o primeiro alvo dos investimentos franceses na América Latina. De acordo com artigo Ser professor de português em Paris, a brasilianista Jacqueline Penjon afirma que "a reforma no ensino na França, com a obrigatoriedade de uma segunda língua para os universitários, trouxe o interesse pelo português, sobretudo o brasileiro, como matéria optativa. O apelo do português brasileiro num país geograficamente mais próximo de Portugal é motivado, diz Jacqueline, pela imagem de simpatia do Brasil". Além disso, a especialista diz: "O português do Brasil é bem mais vocálico (ouvem-se mais as vogais), o que é mais fácil e agradável aos ouvidos do francês, enquanto o de Protugal não, pois as vogais quase não são pronunciadas". A articulação da língua portugusa no mundo favorece o Brasil, só falta agora boa vontade para reverter esse potencial em bem para os cidadãos. De boa vontade política o inferno está cheio. Mas ainda vale a pena sonhar.

Comunicação e lusofonia

Situação da língua em Moçambique:

"Em moçambique, com uma população de 19 milhões, mais de 95% dos seus habitantes têm uma das 23 línguas da família bantu como sua língua materna. Segundo relatório estatístico de 1990, menos de 10% dos moçambicanos com idade superior a 5 anos falam português. Falar português em Moçambique significa uma minoria, em termos numéricos, quem teve acesso à educação (25%) e residir nas zonas urbanas. Desde 1500 a língua portguesa tem convivido com as línguas nacionais, nem semper de forma prática, tendo inclusive alcançado o estatuto mais alto que uma língua pode alcançar, o de língua oficial e apelidado como língua de unidade nacional".

O céu
É uma m´abenga
Onde todos os braços das mamanas
Repisam os bagos de estrelas.
Amigos:
As palavras mesmo estranhas
Se têm música verdadeira
Só precisam de quem as toque
ao mesmo ritmo para serem
todas irmãs.
E eis que um espasmo
De harmonia como todas as coisas
Palavras rongas e algarvias ganguissam
Neste satanhoco papel
E recombinam o poema.

(Craveirinha, 1974)

Palavras - m´abenga: pote de barro, mamanas: mulheres, gangussam: namoram, satanhoco: coisa que não presta.

FONTE: Martins, Moisés de Lemos; Sousa, Helena e Cabecinhas, Rosa (2006). Comunicação e lusofonia: para uma abordagem crítica da cultura dos mass media. Universidade do Minho, Campo das Letras, Porto.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Política cultural e o passado histórico triangular

CLIQUE NA IMAGEM ACIMA PARA VER ENTREVISTA COM MIA COUTO (ESCRITOR) E LUIS CORREIA (PRODUTOR DE CINEMA). O programa Camara Clara, da RTP, traz sempre entrevistas esclarecedoras e vale a pena conferir este debate!

Temas levantados:

Revista americana fala sobre temas africanos

Estereótipos sobre África

Estereótipos dos africanos sobre o mundo

Olhar estrangeiro sobre África

Cinema e Produção cultural

Envolvimento de Portugal

Interesse do Brasil no tema

Lusofonia X Francofonia na perspectiva do cinema

Triângulo: papel histórico Portugal, Brasil e África

...entre outros assuntos...


Economia angolana, corrupção e fé na iniciativa privada

O Jornal d'África é um suplemento que sai no Jornal "Público" e traz sempre material interessante para alcançar alguma parte da realidade de hoje dos países de África de língua portuguesa. Deixo aqui trechos da entrevista publicada em abril com o ministro-adjunto do primeiro-ministro de Angola. Aguinaldo Jaime. Ele decreta o fim do Estado-providência recriminando políticas assistencialistas em Angola e pelo visto sua atual religião é a iniciativa privada.

A entrevista é feita por Tânia Reis Alves:

* Como está a economia angolana?

Bem, a taxa de inflação desceu 7,5% e Angola é neste momento um dos países com maior crescimento no mundo.

* Os chineses estão a investir fortemete em Angola. Não tem medo que eles possam monopolizar a economia angolana?

O investimento chinês tem as mesmas características que o da Alemanha e de Portugal. Angola é neste momento um país em reconstrução em que há necessidades imensas e todo o dinheiro que a China possa investir será pouco para suprir as necessidades.

Há duas formas de ajudar as pessoas. Uma é a visão muito tributária do Estado-providência, onde o Estado coloca ao cidadão importâncias em dinheiro. Não é esta a nossa visão. Nós preferimos desenvolver Angola, dar a possibilidade às pessoas de terem um emprego. Modernizar o país.

É preciso reabilitar as infra-estruturas. Não tenhamos ilusões, sem estrada não tem agricultura, nem comércio, nem construção. Portanto, a visão do governo angolano não é distribuir dinheiro para as pessoas. É criar condições para que a economia se desenvolva e o setor privado possa desempenhar o seu papel.

* Há corrupção em Angola?

A corrupção é um fenômeno a que nenhuma comunidade moderna está imune. Há corrupção em Angola como existe em outros países do mundo. O que é importante é criarmos mecanismos para combatê-la. E uma das formas de combater a corrupção é erradicar a pobreza. Dar condições aos cidadãos, só assim se combate a pobreza de maneira sustentada. E é isto que está em curso em Angola. Aperfeiçoamos os métodos de fiscalização do dinheiro público. Temos um Tribunal de Contas a funcionar e estamos a reforçar os órgãos judiciais.

* Como classificaria as relações econômicas entre Portugal e Angola?

As relações são boas. Portugal criou recenemente uma linha de credito para apoio ao investimento português em Angola. São iniciativas que nos dizem que estamos numa boa direção no sentido de reforço de cooperação.


quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A Hora Brasileira na Emissora Nacional de Lisboa

Encontrei num sebo o livro Palavras aos portugueses, edições Dois Mundos, Brasil e Portugal. Nele, um discurso pronunciado ao microfone da Emissora Nacional de Lisboa, em 20 de março de 1944, classifica como co-sangüínea a relação entre os dois países. Diz que a geografia nos afasta, mas o coração nos une, entre outras observações passionais. O texto fala ainda de uma produção poética brasileira julgada, na época, como fruto de uma inspiração lusitana. Aí vão alguns trechos do pronunciamento:

“A Emissora Nacional recomeça esta noite a irradiar a sua Hora Brasileira.

(...) O parentesco, a língua, a formação moral e religiosa, o mesmo estilo de vida doméstica e social já por si garantiam a proximidade dos nossos destinos políticos.

Somos e continuaremos a ser, em um mundo moral e materialmente devastado pela guerra, em um mundo eriçado de ódios, prevenções e suspeitas, o exemplo de quanto pode o império das mesmas origens étnicas, sentimentais e culturais, quando para sua sobrevivência e engrandecimento trabalham os povos e os homens de boa vontade.

(...) A poesia do Brasil brotou das nascentes do vosso Parnaso, ganhou ao sol do Novo Mundo o esplendor tropical das nossas flores, mas nunca perdeu aquele fundo lírico que é a glória e o segredo da inspiração lusitana”.

O Brasil, com certeza, já não vive mais na sombra do mito da colonização, apesar dos reflexos dela.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O silêncio do Cinema em Timor Leste

Por conta da dominação colonial, a produção nacional de cinema em Timor é muito rara e igualmente a relação da população com o mundo dos filmes. Parece que as únicas imagens mesmo feitas são de câmeras amadoras ou de filmagens para reportagens. É o que garante o Dicionário Temático da Lusofonia (Texto Editores). "Das primeiras ressaltam seis mil metros de película rodados pelo poeta e agrônomo Ruy Cinatti quando lá esteve em missão científica. Além desta, no passado, deve a iniciativas estrangeiras do olhar dos repórteres de guerra, no auge das atrocidades perpetradas pelas tropas da indonésia, a recolha de imagens destes tempos de brasa".

"Depois da independência, uma vez mais é a voluntariosa ação de cineastas de vários países que permite a preservação de imagens únicas através de uma série de documentários. Estão neste caso o cineasta brasileiro Paulo Markun (com O nascimento de uma nação), a atriz e realizadora Lucélia Santos (O massacre que o mundo não viu), ou a jornalista Diana Andringa (O sonho do crocodilo) entre outros. A atualidade timorense é temática até em filmes de animação , como o laureado Tomor Loro Sae, do português Vitor Lopes (obra que cruza as lendas fundacionais da ilha do crocodilo com a história dos quinhentos anos de dominação portuguesa e os vinte e seis anos de resistência armada independentista levada a cabo pelos maubere contra ocupação e invasão indonésia).

Em todo o país há apenas uma sala de cinema, sediada na capital. O restante território usufrui de salas improvisadas que são utilizadas de quando em vez, e é servido irregularmente por um serviço de cinema ambulante. A TVTL, operadora de TV do país, só serve a capital, embora cassetes com seus programas e noticiários sejam frequentemente utilizados nessas brigadas ambulantes de cinema. Falta desenvolver esforços para implantação decisiva de uma estrutura que permita que passem a ser os próprios timorenses a reter a história e para o futuro as imagens da construção de sua sociedade".

Fonte: Dicionário Temático da Lusofonia, Texto Editores.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Visões de Angola

Em especial da revista Visão: África, 30 anos depois (2005), referente aos países de lingua portuguesa, matéria sobre Angola traz depoimentos de estudiosos e especialistas que vivem a realidade do país. Confira abaixo alguns deles:

“Nós já nascemos globalizados. Os povos africanos falam línguas dos ex-colonizadores, acreditam num Deus que não tem nada a ver com as crenças da região e implementaram sistemas politicos criados muito longe deles”. (Fernando Alvim, Diretor da Trienal de Luanda)

“As lideranças angolanas mostraram-se incapazes de criar um modelo de desenvolvimento. Do que é que elas falam? Modernização acelerada. Seja a que custo for. Mas um desenvolvimento muito rápido significa descontrole, porque não temos infra-estrutura para acompanhar tamanha velocidade. Será com naturalidade que os estrangeiros vão tomar conta do processo, com custos politicos e sociais muito sérios para Angola. Já não espero nada deste país para mim. Será tudo para os meus netos”. (Fernando Pacheco, Fundador da Associação para o Desenvolvimento Rural de Angola).

“Os sucessos reconhecidos no domínio macroeconômico não são suficientes para dar substância à reconciliação nacional enquanto houver fome, miséria e riqueza concentrada em Luanda”. (Alves da Rocha, Universidade Católica de Angola).

“Só em Angola o regime socialista foi desmontado pelos seus principas promotores. Elas continuaram (…) José Eduardo dos Santos pode ser um ditador, mas não o vejo como um sanguinário. O que ele e o MPLA fazem é comprar cabeças quando se tornam incômodas, mantendo esse sistema de fantochada democrática sem o endurecer – uma ‘ditamole’”. (José Eduardo Agualusa, escritor).

domingo, 9 de setembro de 2007

A face exposta da língua portuguesa

Em tempos de reforma ortográfica, vai bem revirar o assunto com alguns trechos da carta da escritora Maria Helena Mira Mateus ao filólogo Celso Cunha em 1989. O registro consta no livro A face exposta da língua portuguesa. Nesta homenagem ao amigo brasileiro, a professora catedrática jubilada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa critica a ausência de Cunha na questão do Acordo Ortográfico em 1986 e relembra sua opinião sobre este documento que é um verdadeiro osso duro de roer.

"Quando em 1975 cheguei pela primeira vez ao Brasil – e quando me iniciei na experiência surpreendente de atravessar os mares e continuar a ouvir a minha língua – o Celso era o meu único amigo brasileiro.

O mundo da língua portuguesa é vasto e diversificado. Com a diversidade decorrente da distribuição geográfica se entrecruzavam os problemas sócio-lingüísticos, resultantes do uso da língua nos diferentes meios sociais.

Nesse contexto se compreende a importância atribuída por Celso Cunha a um Acordo Ortográfico. A sua ausência na comissão que, em 1986, discutiu no Rio de Janeiro a concretização do Acordo ficou a dever-se ao fato de, nessa ocasião, ainda não ter tomado lugar entre os imortais.

Mais tarde, em debate entre portugueses e brasileiros, confirma: estou plenamente de acordo com a unificação ortográfica. (...) Num espaço geográfico tão grande, não é possível que haja variações de código escrito".

Fonte: Mateus, Maria Helena Mira Mateus (2002) – A Face Exposta da Língua Portuguesa. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

sábado, 8 de setembro de 2007

O nó do enlace nos ritos de passagem

Tudo bem que os ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. E a união entre duas pessoas é um exemplo disso. A questão que se coloca cada vez mais no seio do efêmero é se esta passagem é só de ida ou tem volta. Alguns rituais de comunidades de língua portuguesa são bem práticos no que diz respeito ao casamento. Segundo o Dicionário Temático da Lusofonia, sobre a cultura de Guiné -Bissau, existem vários meios de se chegar às vias do enlace, ou do nó: casamento por roubo/furto, casamento-promessa, casamento por convite e casamento por decisão. Entre esses, me chamou atenção o papel da mulher em regime matriarcal no casamento por convite/escolha. Ao que consta, as mulheres bijagós convidam e escolhem livremente os seus pares. "A união segue densamente os rituais precursores da procriação", diz o livro. E, em caso de separação, a mulher também decide tudo e se manifesta de maneira bem direta. É simples, se a mulher quer se separar, ela exibe um símbolo por cima da entrada da porta principal e, também com uma demostração simbólica, obriga o homem a retirar-se do lar. Isso significa então o fim da relação. Mas o livro explica que é muito difícil que isso aconteça de fato porque as atitudes dos Bijagós têm como alicerce a relação Deus-homem-mundo. Já em outras áreas de língua portuguesa o modelo mais comum parece ser mesmo o casamento-promessa, que pode levar o rito à condição de mito. E, sem dúvida, o casamento-promessa deve ser o modelo que mais utiliza as potencialidades do idioma.

Revista Claridade, uma voz de Cabo Verde

A revistra Claridade foi um marco da cabo-verdianidade entre 1936 e 37, quando são lançados três números da publicação. Sem programa definido, a idéia do veículo (fundado por Baltasar Lopes, Jorge Barbosa e Manuel Lopes) era se afastar das diretrizes portuguesas e exprimir a voz coletiva do povo cabo-verdiano. Claridade iniciava-se com um testemunho vivo do respeito pelos valores cabo-verdianos, privilegiando a língua crioula, que durante anos de colonialismo foi objeto de repressão. Era assim um desafio à autoridade.

O ideário dos participantes do projeto era o de promover uma renovação com foco nos temas culturais e sociais, na defesa das raízes mais profundas do povo.

Segundo Manuel Lopes, renovar não é criar nova alma, mas procurar reencontrá-la em meio a lugares-comuns que a inércia estratificou e adaptá-las às condições de vida de seu tempo. Arrancar a alma viva do acervo de experiências cristalizadas - eis o que Claridade tentou.

Fonte: Laranjeira, Pires (1995). As literaturas africanas de língua portuguesa. Universidade Aberta, Lisboa.

Festa do PCP

A Festa do Avante, comemoração anual do Partido Comunista Português (PCP), acontece esse fim de semana. O programa cultural desta 31.ª edição traz como tema em destaque a evocação do 90.º aniversário da Revolução Socialista de Outubro.

Direto do túnel do tempo, encontrei um livro de discursos políticos do PCP com recorte de maio a novembro de 1975. No dia 26 de setembro de 75 houve uma reunião no Palácio de Cristal, no Porto, cujo discurso dizia (alguns trechos abaixo):

"Camaradas,

Os fascistas são capazes dos maiores crimes. Os fascistas são gente sem princípios, sem escrúpulos e sem coração. São bestas ferozes capazes de matar os próprios irmãos.

A política da Revolução Portuguesa não pode ser de submissão e entrega ao imperialismo estrangeiro. O novo Portugal democrático que nos estamos esforçando para construir só o poderá ser com uma firme e corajosa política de indipendência nacional.

No Norte há muitos fascistas, há fortes posições reacionárias, há zonas e localizadas onde a reação instaurou uma situação antidemocrática, em que o povo é explorado, oprimido, enganado e humilhado, coagido pelos caciques locais, seus exploradores.

Mas no Norte há também o proletariado industrial revolucionário de gloriosas tradições, há os pescadores, há a população do Porto.

O povo vencerá. Salvaguardaremos as liberdades, construiremos em Portugal um regime democrático e caminharemos para o socialismo, até pormos definitivamente fim na nossa terra à exploração do homem pelo homem.


Viva a Revolução Portuguesa!
Viva a Unidade das Forças Revolucionárias!
Viva o Partido Comunista Português!"


FONTE: Cunhal, Álvaro (1976). Documentos Políticos do Partido Comunista Português, A crise Político-Militar. Edições Avante! Lisboa.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A sabedoria sexual do Kotá Kadéla

Pelo que entendi lendo texto sobre manifestações culturais e ritos em São Tomé e Príncipe (STP), por lá o pessoal vai direto ao ponto em termos de orientação sexual. A conversa é curta e conta com a sabedoria de quem já tem estrada. Não deve ser em vão um provérbio que me disseram que quando morre um velho em África se enterra uma biblioteca.

No Kotá Kadéla, ritual que quer dizer saracotear as ancas, a avó, preocupada com o futuro da neta quando esta passar a viver com um homem, no intuito de fazê-la conquistar seu carinho, ensina-lhe da seguinte forma o Kotá Kadéla:

Estende uma esteira no quintal, onde ambas se deitam (avó e neta). Então a avó simula o ato sexual perante a neta, saracoteando as ancas de várias maneiras, pedindo depois à adolescente que a imite. Segundo a tradição, a jovem, ao ir viver com seu homem, tem de se preparar de modo a conquistar seu amor e carinho.

Bom, pelo visto, a consultora amorosa Nelma Penteado morreria de fome em STP.

Fonte: Dicionário Temático da Lusofonia, Texto Editores.

Gira il mondo gira

Achei interessante esta mensagem que encontrei numa
visita ao museu Almeida Moreira, em Viseu (Quem quer não pode, quem pode não quer, quem faz não sabe, quem sabe não faz....e assim vai o mundo muito mal).

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Genética SuperStar



A Família SuperStar é uma espécie de Ídolos que a SIC lançou no último domingo. A idéia não é só descobrir um talento nacional, mas um verdadeiro intento genético de encontrar a família mais artística de Portugal. A maioria dos participantes cantou músicas em inglês, infelizmente. Poucos cantaram canções lusitanas, ninguém sequer arriscou um fado. E, com tanto repertório de música boa brasileira, aparece uma alma perdida cantando "Garçon" (o figura do vídeo).

Moçambique: entre a Commonwealth e a CPLP

Dentre os países de língua portuguesa em África, Moçambique tem se mostrado forte nos preceitos globais de diversificação de parcerias e participação em comunidades, assim como na aposta bilateral. Está na União Africana (UA), e na condicionante de ex-colônia de Portugal se insere na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Participa ainda da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e envolta pelas posses do império britânico, faz valer sua posição geopolítica se colocando nos meandros da Commonwealth.

De todas essas inserções, chama atenção a presença do país na comunidade britânica, único de língua portuguesa. O Secretariado da Commonwealth é uma associação voluntária de 53 Estados soberanos. Todos os Estados-membros, com exceção de Moçambique, estiveram direta ou indiretamente sob o domínio britânico ou mantiveram vínculos administrativos com outro país da Commonwealth.

O tema foi um trabalho que elaborei para uma disciplina e, no intuito de conhecer melhor a realidade presencial, aproveitei para entrevistar (por e-mail) o diretor do Jornal O Observador, de Moçambique, Jorge Eurico, jornalista que escreve para a publicação Notícias Lusófonas. Conhecedor da Lusofonia, o especialista mostra uma Moçambique inserida no jogo internacional e expressa, em verbo afiado, sua indignação com a CPLP.

DirectoLuso: Para além de membro da União Africana (UA) e da Commonwealth, Moçambique participa da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral - SADC - e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Essa diversidade de inserção internacional beneficia e prejudica o país em que aspectos?

J.E. : A inserção internacional de Moçambique na Commonwealth, União Africana, CPLP e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em nada prejudica o País; pelo contrário, sendo Moçambique um País, esta é uma forma de procurar tirar dividendos de todas estas instituições para colmatar a pobreza absoluta em que se encontra e mostrar que, apesar de pobre, também tem uma palavra a dizer. Moçambique tem tirado bastante proveito e absorvido grandes e boas experiências dos seus países vizinhos, todos de expressão inglesa.

DirectoLuso: Para CPLP e Commonwealth, nomeadamente, quais os ganhos e perdas desse triângulo de relacionamento?

J.E. : A CPLP na prática não existe, existe apenas na cabeça de uns quantos. O mesmo não se pode dizer da Commonwealth que se faz sentir com projectos políticos, culturais, etc, etc nos países de que são membros.

DirectoLuso: Moçambique encontra na Commonwealth o apelo financeiro que falta na CPLP?

J.E. : Não tenho informações precisas, mas penso que sim. Um dos países de expressão portuguesa com quem Moçambique mantém laços muitos estreitos é, contrariamente ao que possa parecer, o Brasil. Não se passa o mesmo em relação aos País Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) e Portugal.

DirectoLuso: Como a opinião pública enxerga Moçambique na CPLP e na Commonwealth?

J.E. : Como uma forma de ir buscar ajudas nas duas instituições. Mas já se viu que, até aqui, a CPLP nada tem para dar a nenhum dos seus membros. Por isso Moaçambique está mais virada para a Commonwealth.

DirectoLuso: O que mudou nas oportunidades de negócio com a entrada de Moçambique na Commonwealth e na CPLP?

J.E. : Quase nada. Apesar de ter como limitrofe países de expressão inglesa, Moçambique ainda conserva os hábitos e costumes, maus diga-se de passagem, do seu colonizador, o povo português. Ainda não se libertou disso. Pensa pouco e pequeno. É, tal como o português médio, manhoso. Aúnica diferença entre os moçambicanos e os portugueses é que os primeiros não gostam de trabalhar, passo que os segundos, os cafres do mar, são escravos do trabalho.

DirectoLuso: Entre 2016 a 2018 existe a previsão de criação de uma moeda única e a União Monetária da SADC como desenvolvimento do processo de integração regional. O que isso representa pra Moçambique e como fica a partir deste fato, concretizado, a relação com as duas comunidades? A diversificação de parcerias de Moçambique seria crucial nesse momento?

J.E. : A criação de moeda única é um projecto a longo prazo, até lá muita coisa poderá acontecer. Moçambique, sendo um País pobre, continuará sempre a jogar em três tabuleiros (entenda-se estar com a SADC, CPLP e a Commonwealth). E Moçambique estará com quem lhe poderá ajudar mais.

DirectoLuso: Sendo um país que guarda uma história de inspiração socialista, que resquícios de sistema esbarram com os conceitos de livre comércio?

J.E. : Há uma excessiva burocracia e, embora de forma disfarçada, quase que não se faz nada sem o assentimento do partido no poder, a FRELIMO.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Cronologia histórica de Cabo Verde

1444 – O português Dinis Dias, escudeiro de D. João, é o primeiro europeu a avistar o cabo da costa Africana a que chama Verde, devido ao seu denso arvoredo.

1456
– As ilhas de Santiago, Boavista, Maio e Sal, do arquipélago depois chamado de Cabo Verde (por ficar defronte ao dito Cabo), todas elas desabitadas, são avistadas pela primeira vez pelo veneziano Alvise de Ca da Mosto (Cadamosto) navegando ao serviço de Portugal, e ambos descobrem as restantes ilhas do arquipélago, igualmente desabitadas.

1460
– Diogo Afonso, escudeiro de D. Fernando, encontra o genovês Antônio de Nolin as águas africanas navegando ao serviço de Portugal.

1463
– Começa o povoamento das ilhas. Os primeiros capitães-donatários são Antônio de Noli e Diogo Afonso. Para os trabalhos mais pesados são levados escravos da costa Africana.

1468
– O mapa de Grazioso Benincasa já faz menção às ilhas descobertas.

1510
- As principais ilhas são arrendadas por Antônio Rodrigues Mascarenhas. Nos anos seguintes são introduzidos o milho e o coqueiro, base da alimentação local. O arquipélago torna-se base de tráfico de escravos para Europa e América.

1550
– É fundada a cidade da Praia. Surgem ataques de piratas franceses.

1586
– O corsário ingles Sir Francis Drake saqueia o arquipélago, mandado por Isabel I.

1592
– Os portugueses criam o cargo de governador de Cabo Verde.

1747
– Há registro da primeira das grandes secas que afetam periodicamente o local.

1810
– Baleeiros da Nova Inglaterra (EUA) recrutam pessoal das ilhas Brava e do Fogo.

1830
– Começa imigração de cabo-verdianos para Massachussetts e Rode Island, onde trabalham na pesca da baleia.

1876
– Fim do tráfico de escravos, arquipélago mergulhado em crise econômica.

1879
– A Guiné deixa de ser administrada a partir de Cabo Verde.

1890
– CV torna-se base de reabastecimento de carvão, água e mantimentos.

1926
– Instaurada ditadura em Portugal.

1951
– CV deixa de ser colônia e passa a ser privíncia ultramarina.
1956 – Amílcar Cabral funda o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

1963
– Embora não haja guerra de libertação, muitos cabo-veridanos passam a combater nas matas e bolanhas de Guiné-Bissau, integrados na guerrilha do PAIGC.

1973
– Amílcar é assassinado por agentes da ditadura portuguesa.

1974
– Portugal reconquista a democracia e abrem-se negociações para independência de CV. Aristides Pereira é o presidente.

1975
– A 5 de julho CV torna-se independente. Nos anos seguintes, muitos cabo-veidanos imigraram para Portugal e para Holanda.

1981
– O PAIGC passa a ser PAICV (Partido Africano para a Independência de Cabo Verde).

1983
– CV normaliza relações com Guiné.

1986
– Aristides Pereira é reeleito presidente.

1991
– Nas primeiras eleições multipartidárias, o PAIGC perde maioria para MPD (Movimento para o Partido da Democracia). O independente Antônio Mascarenhas Monteiro (próximo do MPD) é eleito presidente.

1995
– O MPD volta a ganhar as legislativas.

1996
– Antônio Monteiro é reeleito presidente sem oposição. Uma grande seca afeta o país, que tem de importar a maior parte dos alimentos.

2001
– O PAIGC recupera a maioria parlamentar. Pedro Pires (PAIGC) é eleito presidente.

FONTE: REVISTA VISÃO, ÁFRICA 30 ANOS DEPOIS.

Força na peruca!

As "gangues de peruca" viraram quase um modismo no Porto. São grupos armados que assaltam agências bancárias em várias localidades e, como o próprio nome diz, usando peruca. Só nos últimos meses deste ano o número alcança uma dezena de ações padronizadas. A foto mostra a apreensão de perucas feita durante intervenção policial. Em meio a armas e bonés, os objetos ganham destaque, sendo peças cruciais ao processo, imagino. Os assaltos, no entanto, têm uma certa prática ritualística. Os assaltantes invadem as agências geralmente na hora do almoço e, incrivelmente, durante todos os assaltos ocorridos usaram os mesmos disfarces. Não se sabe ainda se a estratégia se dá por falta de dinheiro ou de criatividade. Segundo o Jornal de Notícias, "todos os assaltos foram realizados de forma tranquila e aparentemente sem pressas. Apesar de usarem armas, os assaltantes nunca terão recorrido à violência para levar a cabo os seus intentos". Fica registrado neste caso então o marketing das perucas. Isso daria a cena perfeita para um conto policial. Carecas ou não, ainda não se tem idéia da origem deste movimento que certamente renderia um verdadeiro tratado psico-estético-social.
(clique na foto para ver o vídeo)

domingo, 2 de setembro de 2007

África, Portugal, Indonésia e China no borogodó da comida timorense

De acordo com o Dicionário Temático da Lusofonia, a gastronomia de Timor Leste é hoje resultado de variedades culturais autóctones e presenças estrangeiras. É comum ver, no entanto, crescente proliferação - mais ao longo da costa - de barracas de comida rápida. A influência religiosa e a tendência patriarcal deixaram traços vincados, evidentes nas orações antes das refeições e nas restritas regras de movimentação para a mesa: homens são invariavelmente os primeiros. Os banquetes são comuns e muitos timorenses chegam a endividar-se para não fazer feio em cerimônias importantes, como casamentos, nascimentos, lutos ou deslutos, enchendo longas mesas preparadas durantes meses por familiares e amigos.

O maior tratado de gastronomia timorense foi publicado em 1998 por Natália Carrascalão, apontando quer os sinais da influência portuguesa e, parcialmente, indonésia, quer as tendências muito próprias de Timor, marcadas pelos seus regionalismos e pelas suas diferentes etnias e culturas.

A comida timorense é hoje preparada com toques de África, Portugal, Indonésia, China - influências marcantes que permitem variar dos peixes secos da vizinha Indonésia e dos condimentos dos pratos africanos, para os mais rústicos traços portugueses.

Arroz, coco, papaia, amendoim e muito piri-píri (pimenta) são ingredientes essenciais para quase todos os pratos. Experiências que vão desde o saboko de camarão - com leite de coco e tamarindo a dar um toque especial com marisco grelhado - ao sassate de cabrito, receita em que é evidente o recurso da soja, tão comum na cozinha chinesa. Ou que passam pelo batarda'an, prato idêntico à cachupa africana.

Cabrito, peixe seco, galinha e porco são regulares, ainda que o uso das folhas de papaia, o milho, a mandioca, os legumes e o arroz sejam marca especial da comida timorense. A banana, o ananás e a papaia evidenciam-se nas sobremesas, com a influência dos coloridos doces indonésios.

Fonte: Cristóvão, F. (dir. e coord), Amorim, M.A., Marques, M..L.G., Moita, S.B. et alii (2006). Dicionário Temático de Lusofonia. Lisboa, Associação de Cultura Lusófona, Texto Editores.

sábado, 1 de setembro de 2007

Feira em Vilar de Perdizes é destino do desconhecido

O congresso de Medicina Popular em Vilar de Perdizes (Trás-os-Montes) deu origem a uma feira que desperta o interesse do público que vai em busca do oculto. O medo do desconhecido, a vontade de estar antecipado ao tempo mobiliza curiosos e místicos ao local para consultarem videntes, médiuns, astrólogos e bruxos.

Mais interessante é a cobertura jornalística. Em REPORTAGEM DA SIC a repórter tenta entrevistar uma menina que acaba de sair de uma consulta a uma vidente. Infelizmente, o diálogo não conseguiu acrescentar muito:

Repórter: O que as cartas te disseram?
Menina: Não posso dizer, senão já não era só pra mim.

Repórter: Foi bom?
Menina: Há coisas boas e coisas más, não é? Na vida não é sempre tudo bom.

Repórter: Achas que acertou em alguma coisa?
Menina: Ah, isso sim, acertou.

No meio da matéria, cada vez mais pitoresca, aparece uma placa dizendo "Licor Levanta o pau", e o contato da pessoa que vende. E terminando a repórter faz um brinde com o Chupito do amor, bebida que tem como indicação tornar as pessoas mais românticas.

Receitinha pra animar:
(fonte: http://culinaria.weblog.com.pt/arquivo/111508.html)

LICOR DE MENTA - LEVANTA O PAU:

60 folhas de menta
algumas sementes de anis
1 litro de aguardente
1 litro de água
1 kg de açúcar

PREPARAÇÃO:
Devem-se deixar em maceração todos ingredientes aproximadamente 45 dias, agitando bem de 5 em 5 dias. Depois deve-se coar todo o preparado e estará pronto a ser bebido.

Para ti Maria (Xutos e Pontapés )

De Bragança a Lisboa são nove horas de distância
queria ter uma avião para lá ir mais a miúda
Dei cabo da tolerância
rebentei com três radares
só para te ter mais perto
só para tu me dares
E saiu agora, e vou correndo
e vou-me embora, e vou correndo
já não demora, e vou correndo para ti
Maria, Maria

Outra vez vim de Lisboa
num comboio azarado
nem máquina tinha ainda
e já estava atrasado
Dei comigo agarrado
ao porteiro mais pequeno
e por-te a sentir a esperar e bolando-te no feno

E saiu agora, e vou correndo
e vou-me embora, e vou correndo
já não demora, e vou correndo para ti
Maria, Maria

Seja de noite ou de dia
trago sempre na lembrança
a cor da tua alegria
o cheiro da tua trança

De Bragança a Lisboa são nove horas de distância
queria ter um avião para lá ir mais a miúda
E saiu agora, e vou correndo
e não demora, e vou correndo
e vou-me embora, e vou correndo para ti
Maria, Maria
Maria, Maria