"O africano vive em familiaridade com a morte, e a morte individual é apenas um momento do círculo vital que não prejudica a continuidade da vida. Mas isso não impede que a morte provoque uma desordem tanto na pessoa do defunto, como entre seus próximos, na sua linhagem e comunidade inteira. Assim, os ritos funerários servem para contornar simbolicamente a desordem e restaurar o equilíbrio emocional do grupo abalado ...
Quando a morte acontece é preciso compor a negatividade que ela representa, proteger-se contra ela, elucidar suas causas para proceder à restauração da ordem. Sobretudo, é importante que o grupo afirme sua coesão e vitalidade, coloque em visibilidade suas energias escondidas com vistas a uma nova partida: os grandes funerais africanos são festas ruidosas que reúnem pessoas de todas as idades num ambiente de excitação sustentada pelas danças, cantos, arengas, ritmos dos tambores, comidas e libações ...
Pouco a pouco a atenção se desvia da morte real, inaceitável em sua dimensão individual e afetiva, para se içar ao plano simbólico no qual a morte é a garantia de uma excelente vida ...
Assim funciona a ideologia funerária de África tradicional: o morto impuro e perigoso é transformado em ancestral protetor e reverenciado, a morte é transformada em vida".
Fonte: Munanga, Kabengele (2005). O que é africanidade. In: Revista EntreLivros, Vozes da África - a riqueza artística e cultural do continente. Edição especial número 6.
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3 comentários:
Que bom que voltou a postar por aqui!!! beijos!
Otimo comentario moça!
bom comeco
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