quarta-feira, 28 de março de 2007

Sons do cotidiano

O cotidiano em toda parte é o grande laboratório das percepções. Às vezes estou distraída, em outro universo, quando uma expressão que escuto no ônibus, na rua, na TV, me traz de volta de maneira instantânea. Nessa antena natural tenho percebido algo comum aos portugueses: uma tendência ao pleonasmo no falar - nesse caso, mais que vicioso. Já captei de tudo, subir pra cima, entrar pra dentro, puxa pra cima, empurra pra baixo, encosta pra trás e por aí vai (algumas destas expressões não são caracterizadas como pleonasmo, mas nas situações que presenciei eram totalmente dispensáveis como complementos). Também me parece haver uma inclinação ao exagero. Hoje, por exemplo, caiu uma chuva fina, que deve ter durado uns 15 minutos. Atravessando a rua, no entanto, ouvi uma senhora ao telefone dizer "choveu torrencialmente". Bom, vai ver foi justamente nesse espaço de tempo que eu estava na matrix lusitana e nem sequer me molhei.

Pleonasmos literários:

"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal"
(Fernando Pessoa)

"O cadáver de um defunto morto que já faleceu"
(Roberto Gómez Bolaños)

"Iam vinte anos desde aquele dia
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quanto em visão com os da saudade via."
(Alberto de Oliveira)

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse post me fez lembrar a matéria de uma coleguinha que escreveu que "o corpo está em processo de esqueletização". Vc lembra dessa pérola? E ela se achava!! Melhor que isso só o triciclo de quatro rodas! hahahahaha