A fome que um estudante de um País Africano de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) sentia acabou um dia por superar a resistência imposta pela vergonha, quando pediu a uma professora que lhe pagasse pão e leite num supermercado.
A situação momentânea deste aluno ficou resolvida, mas revelou um problema que abrange dezenas de estudantes oriundos dos PALOP colocados no Instituto Politécnico de Viseu (IPV).
Sem bolsas que permitam pagar a alimentação, as propinas (800 euros anuais divididos em quatro prestações) e o alojamento, Vanda Cabral, Carlos Alves e Ramaliel Neves, cabo-verdianos, descreveram à Agência Lusa as "tremendas dificuldades" que vivem para concluir os estudos em Portugal.
Não acusam ninguém por não terem dinheiro que lhes permita viver com o mínimo de comodidade, nem o Governo da Cidade de Cabo Verde que não lhes paga bolsas, nem o IPV por lhes negar o acesso às residências para estudantes.
"A lei é assim", lamentam, embora sublinhem que "com boa vontade" este problema poderia ser ultrapassado.
Só que a verdade, como explica Carlos Alves, de 29 anos, estudante de Marketing na Escola Superior de Tecnologia do IPV, "é apenas uma": muitos "passam fome", vestem-se com a "caridade de colegas e professores" e a Caritas de Viseu tem sido "uma grande ajuda" com a distribuição periódica de roupas e alimentos.
"Debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo, forjar no trigo o milagre do pão, e se fartar de pão. Decepar a cana, recolher a garapa da cana, roubar da cana a doçura do mel, se lambuzar de mel. Afagar a terra, conhecer os desejos da terra, cio da terra, a propícia estação. E fecundar o chão".