Cesário Verde teve uma vida breve (1855-1886), mas bem produtiva. Ao conhecer alguns de seus poemas gostei do seu estilo por vezes ácido e irônico. Pertencente à geração de realistas e parnasianistas, em 1887 de suas obras dispersas fez-se a coletânea O livro de Cesário Verde, que neste fim de semana comprei em uma feira de usados por apenas 1 euro! Ele é a expressão poética das aspirações, sonhos e conflitos da pequena burguesia lisboeta. Diz o prefácio de Silva Pinto que o homem de vida pouca, apercebendo-se de que havia que fluir dela intensamente, já que o tempo urgia, transmite a sua obra a força dum pacto secreto. Alguns trechos da poesia de Cesário:
"Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas".
"As burguesinhas do catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo".
De tarde
Naquele piquenique de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da marenda
O ramalhete rubro das papoulas!
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2 comentários:
Bem bacana a poesia!!! Isso que é bom de morar fora, a gente acaba ampliando os horizontes culturais!!! : ))) beijos
Oi JU! Acho que sim, mas esse autor eu conheci nas aulas de literatura da UFF. Alías, eu adorava aquele curso. O professor de literatura portuguesa de lá é fantástico.
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