domingo, 8 de julho de 2007

Craveirinha: Poema do futuro cidadão

Poema do futuro cidadão
(José Craveirinha - Chigubo - 1964)

Vim de qualquer parte
de uma Nação que ainda não existe.
Vim e estou aqui!

Não nasci apenas eu
nem tu nem nenhum outro...
mas Irmão.

Mas
tenho amor para dar às mãos cheias.
Amor do que sou
e nada mais.

E
tenho no coração
gritos que não são meus somente
porque venho de um País que ainda não existe.

Ah! Tenho meu Amor a todos para dar
do que sou.
Eu!
Homem qualquer
Cidadão de uma Nação que ainda não existe.



FONTE: Cavacas, Fernanda (1994). O texto literário e o ensino da língua em Moçambique. Colecção Sete, Lisboa - Maputo.
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Autobiografia (Wikipedia)

Craveirinha é considerado um dos maiores poetas de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões.

“Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.

“Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato.

“A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros. Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão.

“E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terrra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.

A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.

Nasci ainda outra vez no jornal "O Brado Africano”. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.

Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.

Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por parte de minha mãe, só resignação.

Uma luta incessante comigo próprio. Autodidata.

Minha grande aventura: ser pai. Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.

Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite.

2 comentários:

Anônimo disse...

Deixo de passar aqui alguns e dia e quando volto ja tem um monte de posts. Que otimo!! beijos

ziza disse...

Tava tudo 0 comentários antes de vc passar (rsrs). Bjao!!!