Mas é verdade, aconteceu: abri justamente na página 112, verbete 172 A memória. Lá diz que "Ela é quase sempre uma recuperação de imagens imóveis. Porque relembrar o movimento exige um esforço de deliberação. E a memória simplesmente aparece. Mas são imagens que se marcam ou douram de um envolvimento que as transfigura. Um halo, uma ténue neblina. E tudo isso inserido numa certa estação do ano, num certo momento do dia ou da noite. São imagens que se repetem na evocação de certos lugares como se os condenassem e nelas se resumisse ou aglomerasse a vida toda aí vivida. Uma hora de neve, de um gelo na face ao caminhar por uma rua com beirais das casas pingando a água do degelo. Uma certa hora de Outono em esguios castanheiros a desfolharem-se. Uma certa noite de Verão com uma grande lua a nascer. Um passeio pelo campo com flores silvestres que talvez ninguém mais veja. Memória de uma vida tão cheia do seu nada nesse breve instante que a resume toda. O melhor de si. Esse nada de si".
Creio que o maior desafio é conseguir não pensar em nada, esvaziar a mente, sem um risco de passado, presente ou hipótese de futuro (deve ser "esse nada de si"). A verdade é que ainda não consegui lembrar o que ia dizer. Mas o esquecimento às vezes vem a calhar. Valei-me Vergílio Ferreira.