A vida da poetisa alentejana Florbela Espanca parece ter tido um início e um fim já planejados, quem sabe sacramentados a 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal. Com uma trajetória curiosa, a escritora nasceu em 8 de dezembro (1913) e se suicidou em 8 de dezembro (1930). Foi batizada na igreja de N.S. da Conceição, aos 8 anos adotou o nome "da Conceição" e lecionou no Colégio N.S. da Conceição, em Évora. Em sua última noite, escreveu o soneto À morte e um mês antes de partir confessou a uma amiga que se suicidaria no dia de seu aniversário como um presente para si própria. O soneto é uma conversa da poetisa com a morte, personificada. Morte que teria dedos macios de veludo para quem Florbela pede que feche seus olhos, pois já tinham visto tudo.À morte
Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E como uma raiz, sereno e forte.
Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.
Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!
Vim de Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera, ...quebra-me o encanto!
Guedes, Rui (2001). Florbela Espanca: poesia completa. Publicação Dom Quixote, 2 ed., Lisboa.

Um comentário:
Nossa, Ziza, que lindo!!! Tem um poema de Goethe sobre a morte também que é bem bonito. Pena que eu não sei de cor, mas tenho guardado e te mando depois! beijos
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