Em recente evento no Porto sobre o Acordo Ortográfico (AO), falou-se que o Brasil mostra grande generosidade por não colocar em sua Constituição "Língua Brasileira" e manter "Língua Portuguesa". Existe um fato que faz o AO ser inevitável em termos políticos. Se o Brasil proclamasse sua independência linguística munido de sua variante própria a Língua Portuguesa teria menos aproximadamente 183 milhões de falantes e não seria mais a sétima no ranking mundial. Assim sendo, para Portugal trata-se de uma questão estratégica de defesa do idioma. E ainda, tendo já ratificado o AO de 1990 Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, segundo protocolo modificativo que permite a entrada em vigor do documento com três signatários, Angola, Moçambique e Timor ficam na incógnita.
Moçambique avalia a ratificação, mas não apresenta data. O escritor Agualusa defendeu a escolha, em Angola, pela ortografia brasileira "caso o acordo não seja aplicado por resistência de Portugal". Já Mia Couto é contra o documento alegando que "há tanta exceção, omissão e casos especiais que não traz qualquer mudança efetiva".
O acordo traz muita indignação à sociedade portuguesa, que não entende e não se vê adotando as alterações propostas no dia-a-dia. O português europeu sofreria 1,6% de alterações (2.600 palavras) enquanto no Brasil o impacto é de apenas 0,5%.
No evento, enquanto as alterações eram explicadas, a platéia de estudantes murmurava frases como "Isto é ridículo, isto é terrível!". Me senti em uma verdadeira aula de catequese cultural.
Uma das oradoras do encontro disse que Portugal precisa agir urgentemente com influência cultural sobre o Brasil e em África. Então perguntei a ela se essa mentalidade não reflete aquele caduco discurso colonizador - colonizado. Sendo a única brasileira no local, criou-se uma espécie de mal-estar. (Não dá para ouvir esse tipo de coisa e ficar calada).
Histórico do que Malaca Casteleiro comparou à Guerra dos Cem Anos:
O histórico da ação do AO reflete uma sucessão de entraves. Em 1911 Portugal decide promover uma reforma ortográfica que aboliu consoantes mútuas, entre outras medidas de simplificação da escrita. A atitude se deu sem comunicar ao Brasil. Assim foi implantada a dualidade das normas. Deu-se a grande divisão de percursos. Em 1931, 20 anos depois, ocorreram algumas negociações para incluir o Brasil e foi assinado então um acordo preliminar que adotava o modelo de 1911. Em 1943, uma Comissão Ortográfica deu origem ao AO de 1945, que o Brasil não assina. Em 1971 há assinatura de um novo acordo que aproximou mais as ortografias e em 1990 chega-se ao acordo em seu modelo atual. Em março de 2008, o governo português emite sua aprovação e dá o prazo de seis anos para realizar a transição e adotar as medidas. (Com isso, a situação vai se prolongar e cria-se o período - 1911 a 2011 - Guerra dos Cem Anos das palavras).
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5 comentários:
Adorei seu texto, Ziza. Bastante esclarecedor. Teu negócio é mesmo lusofonia, amiga. Adorei sua intervenção, pena que você não filmou tudo e colocou no Youtube para todo mundo ver.
Olha, não esqueci de você não. Quero marcar sim de vocês virem aqui em casa, mas Luis agora tá fazendo um curso fast food para fazer uma prova. Vai até o próximo fim de semana desse jeito.
Beijão
Ah by the way, le esse meu postzinho aqui neste meu outro blog. Doidinha eu, né?
http://monicacarvalho.wordpress.com/2008/04/10/meditacoes-anti-cartesianas/
Bj
Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Celulite, I hope you enjoy. The address is http://eliminando-a-celulite.blogspot.com. A hug.
Oi Mônica!!! Obrigada por ter passado por cá! E adorei o convite, vamos nos ver sim. Vamos marcar aqui no Porto também para você vir na nossa casa. Te escrevo, claro que vou ler seu texto!!! Um beijo grande, adorei ver a sua foto e lembrar de ti.
Ah, obrigada pelas palavras e pelo apoio!!!!! Bjao!!!
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